sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Histórias contadas às margens de um córrego!


Algumas vezes nos reunimos às margens de um córrego que corria manso atrás da chácara do Lalá. Levávamos as nossas varinhas de bambu mesmo sabendo que no tal córrego, nenhum peixe de expressão iríamos pescar. Só algumas pequenas piabas.
A garrafa de Velho Barreiro era aberta, e João Preto começava a contar os casos vividos por ele nas cidades interioranas quando biscatiava pelos sertões de Minas Gerais.
Este era o nosso peixe!
Às vezes em noites chuvosas e escuras, ou em outras iluminadas pelo luar, as histórias contadas por este preto de pele, e branco de alma começava a nos encantar. A riqueza dos detalhes e o brilho no olhar, já era o suficiente pra fazer a gente acreditar.
Contava das fotos que tirava com uma máquina polaroide, e de quadros que vendia para donas de casa, e que muitas vezes trocava suas mercadorias por um jantar.

Esse mundo! Esse mundo! É verdade! É verdade!

Era assim que gostava de se expressar.

João Preto era o mestre de obras do Vale das Andorinhas. Foi ele que construiu a residência dos meus pais. A nossa casa de campo.
Quem tiver histórias do finado João, por favor relate nos comentários desta postagem.

sábado, 23 de outubro de 2010

Cabral, 50 anos. Um ano de saudades!

Parece que foi ontem!

Eu, Gustavo, Henrique e Pedrinho estacionados no posto de gasolina em frente a faculdade Católica em Taguatinga, esperando a chegada do homem que iria nos mostrar o ônibus. Henrique tirou fotos e enviamos e-mails para todos. Aos poucos a lista ia crescendo... Eu vou! Eu não sei... talvez... e no final todos acabaram indo.
1) Nilson ,
2) Juraci ,
3) Ivan ,
4) Jenie ,
5) Rosa ,
6) Toninho ,
7) Rosana ,
8) Ana ,
9) Jeoná ,
10) Henrique ,
11) Patricia ,
12) Marione ,
13) Miriam ,
14) Ana Paula ,
15) Hugo ,
16) Liliah ,
17) Carol ,
18) Felipe ,
19) Rodrigo ,
20) Teresa ,
21) Vinicius ,
22) Márcia ,
23) Gula ,
24) Paulinha ,
25) Leandro ,
26) Lukas ,
27) (Titi/Rafa) ,
28) Mary ,
29) Emanuel ,
30)Luciana ,
31)Marina ,
32) Estevão ,
33) Percival ,
34) Erlane ,
35) Aline - de Ana,
36) Lana .
37) Rafaela
38) Matheus - Gabriela e Marina (crianças)

Quem esqueceu a bagunça em frente ao ap. do Bigas?
O catador de latinhas, ganhou uma grana!
Tinha até wisky...
Eu posso me ver entrando naquele veículo, e sou capaz de dizer um por um, os nomes das pessoas e as poltronas que ocupavam.
Lembro bem:
Dos fumantes chatos que enchiam o saco do motorista..
Do Bareta que assumiu o lugar de co-piloto.
Os namorinhos nas poltronas lá de traz.
Dos papos da mãe com a filha na poltrona atrás da minha.
De Leandro e Paula.
De Nilson e Juracy.
De Rosa, Ana e Rosana.
Hugão, Liliah, Carol, Lucas e Felipe.
Miriam, Rafael, Bia e Luciana alem dos netos Matheus e Gabriela.

São tantos....

Uma família inteira, gerações diferentes se encontrando... se conhecendo, se revendo!!!
Uma satisfação para nós que moramos tão longe, e só temos oportunidade de encontrar este pessoal tão querido, em situações de férias, e olhe lá...

Pois é...

Edson Cabral de Oliveira nos proporcionou isto.

Agradeço a ele pela iniciativa, persistência e organização, pois sem tirar os pés de Palmas, e fazendo uso apenas da comunicação via e-mails, ele conseguiu lotar um ônibus, e várias poltronas de avião, para sua festa.

E que festa!!!

A chegada.

Jabuticabas foram servidas no pé. Nem três ônibus lotados acabariam com elas.

As acomodações estavam perfeitas, desde o acampamento teen as margens do corrego, até a deslumbrate pousada, onde logo no primeiro dia eu, Estevam, Nilson, Jorinaldo e Roberto,
entornamos o primeiro litro da "boazinha de minas".

As mesas que nos foram oferecidas, comida maravilhosa muito bem preparada pelas meninas de Palmas.

A missa emocionante!

Ainda posso ver o semblante de mamãe olhando para o filho e para o padre.
Discursos inflamados de políticos, e a homenagem justa dos amigos. E na vez da Lucia e das meninas... E quando o aniversariante falou!

Quem não chorou, ou ficou com os olhos cheios d'agua?

Que festa!

Roqueiros, metaleiros, dançarinos profissionais (percival, teresa, bareta, miriam, paty e juracy) e amadores, se misturavam noite adentro, aos embalos de sábado à noite. Rock, forró e até funk. Todos dançaram. Até os meninos coroinhas do padre.
E como dançaram bem.

O choro dos sobrinhos na hora que a musica " A magestade o sabiá" tocou.

Para cada mesa que olhava via um parente. Fala sério. Isso é bom demais!
Passeio turístico estava no pacote.
Antigo palacio, o novo, as ruas, fotografias com as estatuas, parada básica na beira do lago. Visita a casa do anfitrião.
Banho no corrégo gelado.
Truco na área da casa teen.
Destronquei o dedão de tanto abrir latas de skol.
Pelada no terreno vazio em frente as casas, num campo cercado por arames, craques jogaram até o anoitecer.

São tantas lembranças que ficaram registradas naquelas 50 horas de alegria!

Triste mesmo foi só na hora de voltar. Quando o aniversariante Cabral entrou no ônibus já lotado, para agradecer... Olhar pela janela e ver mamãe sentada e amparada por Marise, chorando e dando adeus para todos.

Os pequenos contra-tempos.

Percival vai pegar a sua perdiz atropelada.
Bareta se perde na pequena Taquaruçu.
O ônibus para por falta de combustível.

Fora isso!!!

Parabéns Cabral, pelos seus 51 anos!

Você descobriu o jeito de não envelhecer, pois os anos passarão e nós sempre nos
lembraremos dos 50 anos do Cabral!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Campo de peladas

Minha carreira amadora de peladeiro, começou no ano de 1961, quando eu recebí de presente de natal, uma bola de couro oficial. Aquelas bolas de "marca". Confesso que fiquei contrariado, pois esperava ganhar um carrinho movido a pilhas, igual ao do meu irmão.

Passado a decepção momentânea, agarrei a minha bola novinha em folha e corri para o campinho de areia que ficava bem de frente a minha casa. No segundo "quique" da bola, o campo já estava repleto de meninos prontosa dar inicio ao nosso primeiro jogo com uma bola oficial. Foi uma manhã de muita gritaria o que acabou irritando mamãe que naquela hora estavam ocupada preparando nosso almoço. Eram broncas e broncas por causa da sujeira que a gente levava para dentro de casa. Mais vida de atleta é assim mesmo.

E assim foi em todos os lugares onde morei. Sempre havia um campo, um clube ou mesmo um terreno baldio onde jogávamos nossas tradicionais peladas.

Quando fomos morar em Juiz de Fora, nada mudou em relação as minhas atividades futebolísticas, e as peladas continuaram acontecendo. Só que agora o campo não tinha as areias macias de Natal, e sim um barro grosso misturado ao cascalho da Vila Dimas, onde ficava o nosso campo oficial de peladas. Meu pai, por diversas vezes, me pegou matando aula e jogando bola neste campinho que ficava bem em frente ao colégio.

A Vila Dimas era um bairro de Juiz de Fora que ficava situada do outro lado da linha ferroviária, em frente ao Mariano Procópio. Este lugar era maravilhoso. Tinha a linha de apoio da ferrovia, onde podiámos brincar nos vagões parados, ou em carros sobre trilhos que era utilizado para socorrer as máquinas que quebravam. Era uma espécie de tabula sobre rodas de ferro. Andei muito com estes carros nestes trilhos. Joguei muito também.

O tempo passou, o Brasil foi conquistando títulos mundiais, e eu aprendi a torcer pelo Flamengo. Falando nisso, lá em casa cada um torce para um time diferente. Flamengo, Vasco, Botafogo e Fluminense. Convivemos em plena harmonia. Até hoje ninguém saiu nos tapas por causa de clube de futebol.

Hoje eu sinto que a pratica deste esporte está cada vez mais complicada. O que não custava nada, hoje é muito caro. Tão caro, que os pais vão desistindo de estimular os filhos para a prática do futebol. Primeiro que não há mais campos disponíveis, a não ser aqueles de grama sintética que são alugados a um prêço absurdo.

Em Brasília, fundamos um time de futebol de salão chamado Oscop's. Era composto por elementos da família, e foi vitorioso enquanto durou. Uma das características do time, era a cerveja após os confrontos. Daí o nome fazendo apologia "aos copos" de cerveja que tomavámos após cada partida.

Hoje, aposentado dos campos de peladas por falta de "espaço", tenho apenas acompanhado como torcedor, meu clube de coração. O Flamengo. Seis vezes campeão brasileiro.
Mais confesso que sou descrente. Vejo jogos em que os arbitros fabricam resultados, com erros absurdos. Sinto também que os jogadores não tem mais aquele amor a camisa do clube que defendem. A grande jogada hoje é um contrato gordo. Bem gordo. Assim como o do Ronaldo "fenômeno" do Corinthians.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Era sábado...

Era sábado.
E o tempo estava lindo lá fora.
Ah! Era aniversário da Titi!
Seria um dia de festa, estávamos reunidos. Todos nós estávamos lá.
E olha que nós somos festeiros! Somos alegres, somos unidos...
Era pra ser aquele sábado !!!
Como tantos que já foram. Lembram-se?
Quando cheguei com Luiza e abri a porta, vi o quarto lotado.
Miriam, Isabel e Edson estavam lá. Joana e Igor também estavam lá.
Henrique e Patricia, Teresa, mamãe. Claro, mamãe nem saiu de lá. Edson dormiu lá.
Menos o Hugão. Ele iria passar a tarde toda lá.

Se fosse num outro dia, num outro sábado....

Mais era aquele sábado.

E a gente tinha muito o que fazer...
Como em todos os sábados, eu precisei ir ao mercado.
Então eu me despedi de todos e saí.

Mais do ilustre hospede, eu me despedi pra sempre.

Não vou contra a vontade de Deus.
Não sou contra a natureza humana.
Não sou revoltado. De jeito nenhum. Jamais!

Mais tinha que ser logo num sábado!!!

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Primeira viagem ao Tocantins

1990 – Primeira viagem ao Tocantins.

Era madrugada, e estávamos viajando por uma estrada de terra tão estreita, que algumas vezes ficava totalmente encoberta pela mata. O brilho das estrelas podia ser visto no espelho d'agua refletido pelo rio Javaés, nosso companheiro por mais de hora nesta jornada. Passamos por pequenas pontes feitas com troncos de árvore, e levamos um susto enorme quando um jacaré saiu da mata e cruzou a estrada bem em frete ao nosso carro.

Com a expectativa nada agradável de quem iria perder o emprego, resolví abri uma emprêsa de informática junto com outros três colegas que estavam na mesma situação. Como éramos analistas de sistemas, e tinhámos bom conhecimento na área contabil, resolvemos procurar clientes para fazer a nossa carteira. Aos poucos fomos montando a estrutura de nossa empresa. Alugamos uma sala na 510 norte, e fechamos nosso primeiro contrato com uma empresa privada, cuja sede ficava na cidade de Miracema, capital provisória recem criado do estado do Tocantins.

Fizemos várias viagens até esta cidade, para acertar detalhes e colher informações para o desenvolvimento do sistema de contabilidade daquela empresa. Debaixo de um calor insuportável, nos reunimos na varanda de uma casa onde moravam meus irmãos, e começamos a levantar os dados nescessários para implementação deste projeto. Meu socios montaram um banco de dados e desenvolveram programas específicos para esta empresa.
Com ajuda de uma funcionária, o nosso sistema começou a ser implementado, e os dados lançados, começaram a gerar os resultadados esperados.
Como a implantação ia de vento em popa, foi preciso fazer algumas viagens para esta cidade. O problema todo era o péssimo estado em que se encontrava a Belem-Brasília com muitos trechos esburacados. Tinham trechos nesta rodovia, onde um bom motorista levava quase 6h para percorrer os 200km. Foi então que começamos a estudar rotas alternativas para ganhar tempo. Observando os mapas rodoviários, fomos criando os roteiros da próxima viagem. Saímos de Brasília, entramos em Anápolis e seguimos até São Miguel do Araguaia. Até lá, a viagem foi tranquila, e o asfalto estava em boas condições, apesar de, em alguns trechos não ter acostamento e também muita travessia de animais.

Era tarde da noite quando entramos no primeiro trecho de estrada de chão. Seriam 50km até a próxima cidade, todo ele percorrido em 1:30h. Não estava tão ruim assim. O trecho seguinte foi complicado, pois já passava das 02h da madrugada. As cabeceiras das pontes de concreto tinham desabado por causa das chuvas, e toras de madeira foram improvisadas para fazer o acesso da estrada à ponte. Todas as vezes que chegavamos nestas pontes, um colega descia para orientar o motorista. Além disso, tinham as porteiras para abrir. Eram muitas porteiras. Estavámos passando nas terras do projeto Canaã, que pertencia ao Bradesco. Eram quase 4h da manhã quando acordamos o vigia na guarita desta fazenda para pedir informação. Ele meio sonolento, apontou para o local onde teriamos que passar. Seguimos adiante, e notamos que a estrada se fechava a cada Km percorrido. Estávamos paralelo ao rio Javaés. Até jacaré cruzou o nosso caminho.

Chegamos a um local onde alguns barcos estavam ancorados próxima as margens do Javaés. Um deles estava todo iluminado. Pessoas conversavam e davam risadas fazendo muito barulho. Resolvemos parar e pedir informação, pois já tinhamos consciência de que estávamos perdidos. Saímos da estrada e descemos até o beira do rio, com o carro deslizando pelo cascalho solto. O barulho do cascalho batendo na lataria, chamou a atenção do pessoal do barco, e não demorou para que duas pessoas viessem ao nosso encontro. Não deu para ver direito, mais pareciam indígenas. Um deles jogava o foco da lanterna em nossa direção, e o outro carregava nas mão uma escopeta. Não se aproximaram muito. Perguntaram o que nós estávamos fazendo ali. Respondí que estávamos indo para Formoso do Araguaia. Neste momento ouvimos de um deles que estávamos totalmente errados e que teriamos de voltar até a entrada da fazenda Canaã, e seguir pelo caminho da esquerda, totalmente diferente do que nos tinha dito o sonolento vigia. Perguntei se eles tinham gasolina para nos vender. Eles responderam que só tinham óleo diesel para os barcos, e pediram sem nenhuma gentileza, para que nos retirássemos.

Por volta das seis horas, paramos num posto de gasolina da cidade de Formoso do Araguaia, para abastecer o carro que chegou com as últimas gotas de combustível que restavam no tanque. Depois ainda tivemos que percorrer um trecho de 45km com muitos buracos e desvios até chegar em Gurupi. Daí até Miracema foi tranquilo. Chegamos na casa do meu irmão, às 10h da manhã.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

A história da brasília que foi a Salvador

Aconteceu comigo nas férias de janeiro de 1989.

Eu tinha um carro nada econômico, dava muitos problemas mecanicos, e era difícil encontrar as peças de reposição.

Eu estava planejando viajar para Porto Alegre, onde passaria o mês de janeiro na companhia dos parentes da mulher que eu era casado nesta época. Estava tudo certo. Férias marcadas no banco, o dinheiro reservado para as despesas, etc... O único problema era o carro.

Resolvi então vender o Dodginho e comprar um outro carro mais novo.
Anunciei o carro nos classificados dos jornais da cidade, e esperei que aparecessem os pretendentes.
Carro vendido, dinheiro na mão, sai a procura de um carro bom para comprar. O objetivo era procurar um que estivesse em condições para realizar esta viagem de cinco mil quilometros contando a ida e a volta.

Encontrei uma brasilia bege, que parecia estar em perfeitas condições. Pelo menos era o que aparentava.
Mesmo assim, com o carro rodando sem problemas pelas ruas de Brasilia, resolví fazer uma revisão de viagem. Escolhi a oficina do Bernardo, velho conhecido mecanico da família. Levei o carro até ele, e expliquei que estava de saída no sábado seguinte, para uma longa viagem com a família. Mulher e meus dois filhos pequenos, por isso não queria ter dor de cabeça nas estradas do sul.

Ele muito competente, falou um “deixa-comigo” e começou a procurar defeitos no barulhento motor da minha brasilia. Mexe daqui, mexe dalí, encontrou um vasamento de gasolina, no pé da base do carburador. Nada que um pedaço de barbante não resolvesse. Depois de uma manhã inteira dedicada a caça de defeitos, escutei dele a seguinte frase:

“Com esse carro voce pode ir até o Japão!”.

Só que antes teria de pagar a conta salgada desta manutenção.

Animado, na sexta-feira à noite, antes de dormir, arrumei tudo para a viagem, malas ajeitadas no compartimento, roupas de frio para o sul, mesmo sendo na época do verão. Pois dizem que por lá não se deve arriscar.

Acontesse que meu sogro chegou da rua com uma novidade. Havia recebido um convite de um amigo que lhe cederia um apartamento em Salvador, sem nunhuma despesa. Então, diante desta cortezia irrecusável, resolvemos partir em dois carros para a capital bahiana, onde pelos nossos cálculos chegaríamos na tarde do dia 31 de dezembro, podendo assim, assistir com folga, a queima de fogos da passagem de ano. Tudo combinado, marcamos a nossa saída para às nove horas do sábado. Isto porque o meu sogro não abria mão de uma noite bem dormida, e também não via vantagem em sair de madrugada, dizendo ele que a viagem tenderia a ficar cansativa, e consequentemente com perda de rendimento no decorrer do dia. Então certos, fomos descançar.

Quem disse que eu conseguí dormir?
A ansiedade tomou conta e me deixou sem sono e com uma tremenda dor de barriga.
Resumindo, não dormi, o meu sogro só queria sair depois do almôço, então por volta das quatro horas da tarde, com o sol rasgando sobre nossos capus, demos inicio a nossa viagem. Seriam mil e quinhentos km até Salvador. Era dia 30 de dezembro de 1988. Teríamos então um dia e meio para chegar a tempo de ver a festa da virada
.
16h – saida de Brasília. 16:50h – a brasilia quebra pela primeira vez.

O carro parou de vez, antes mesmo de chegar a cidade de Formosa. O motivo foi a caixa de voltagem que queimou. Encontrar uma loja que vendesse uma parecida já depois das 18h foi impossível. Então um mecanico vendeu uma recondicionada. Chegamos a cidade de Alvorada por volta das 22:00h. Eu estava esgotado e com muito sono. O pernoite foi numa pequena cidade ainda dentro do estado do Goiás.

Na manhã do último dia do ano, depois de uns pães de queijo com café, retomamos a nossa rota rumo ao nordeste. Os duzentos quilometros seguintes, foram percorridos com tranquilidade. Nada aconteceu. Mas, quando paramos para abastecer o carro, ele não pegou na chave, de jeito nenhum. Os caras da bomba empurraram e o carro entrou em movimento. Segui por mais uns 100km, com a luz do alternador acendendo e apagando, dando sinal de que alguma coisa não ia bem na parte eletrica do veículo.

A brasilia parou pela segunda vez.

Desta vez o pessoal ficou no posto, enquanto eu e meu cunhado procurávamos um mecanico que nos ajudasse a resover o problema. Encontramos um bahiano que pegou a sua caixa de ferramenta e seguiu com seu ajudante numa moto, até o local onde o carro ficou parado. Mexe daqui, mexe dalí ele consegui colocar o carro em movimento. Porém ele avisou que quando chegássemos a cidade mais próxima, deveriamos comprar uma caixa de voltagem nova, e também proceder a troca dos carvões do alternador e colocar uma distribuidor novo. Fazendo isto, segundo ele, não haveria mais problemas eletricos, e chegaríamos sem problemas a Salvador. Este foi o único mecânico honesto, ele cobrou o preço justo.
Paramos na primeira cidade que encontramos pela frente. O problema é que, devido ao feriado, as lojas estavam todas fechadas, e não conseguimos compra as peças.
Seguimos assim mesmo.
Estávamos bem perto de Salvador, quando as luzes do carro se apagaram do nada. Sem farol, não dava pra prosseguir. Meu sogro, minha sogra, meu cunhado e minha filha seguiram viagem. Eu fiquei parado numa oficina de beira de estrada, esperando a boa vontade de um bahiano semi-embreagado, que tentava entender o porquê dos faróis não acenderem.
As 23h ele conseguiu acertar o defeito, e depois de cobrar um preço exagerado pelo serviço (fui literalmente assaltado por este mecânico), pude enfim seguir viagem, chegando em Salvador juntinho com o novo ano. Os fogos explodiam na noite, como se quizessem brindar a minha chegada tão tumultuada a esta capital.

Essa história não termina aqui. Este é apenas um capitulo desta viagem desastrosa.

Quando cheguei em Salvador, depois das malas retiradas, estacionei a brasilia debaixo de um frondoso abacateiro. Jurei a mim mesmo que ela ficaria ali, paradinha, até o dia do retorno. E assim fiz.

Praia, cerveja, sol e muita curtição junto com meus filhos. As férias seguiam as mil maravilhas e eu nem lembrava que tinha um carro. Até que chegou o dia da volta. Por o carro novamente na estrada. Deu aquele desanimo, aquele medo. Desta vez só eu e a família. Não teria o outro carro para suporte, pois o pessoal resolveu ficar mais um pouquinho.
Tentei diversas vezes dar partida no carro, porém sem exito. Bateria arriada. Chamei os mecânicos indicados pelo pelo meu amigo Souto.Quando cheguei por volta das 9h na oficina, eles estavam todos dormindo debaixo de uma sombra. Acordei um deles e contei o problema com o carro. Ele me disse que iria ver logo após a siesta, pois tinha acabado de merendar.

Passado um tempo, eles chegaram. Eram três mecânicos e cada um deu um palpite.

- Meu rei! É bateria. Primeira opinião.
- Tem que dar uma carga. Disse o outro.
- Não vai resolver. Tem é que comprar uma bateria nova. Disse o mais experiente.

Terminei indo pela opinião deste último, e comprei a bateria nova, junto com a caixa de voltagem, uma caixa de fusível e lâmpadas de reserva. Com o carro concertado, e já depois de termos feito uma leve refeição, partimos rumo a Brasília. Os primeiros 80km o carro foi sem problema. Respondia bem, não havia sinal de luz de aviso, nenhum defeito. Então eu pisei fundo no acelerador, para descontar o tempo perdido. Segui a viagem a 140km/h.
Antes mesmo de ter rodado 120km, o motor não resistiu e fundiu.
O cheiro de ferro fundido misturado com o de óleo queimado, tomou conta do veículo, e arrancou tosse dos passageiros. Até que ele parasse, foi uma eternidade. Um barulho ensurdecedor que mais parecia um filme de guerra americano cheio de efeitos especiais.
Nesse momento eu me ví com duas crianças no meio da estrada, sob um sol fortíssimo queimando em cima das nossas cabeças. A temperatura girava em torno dos 35º sem nenhuma sombra.

* É nessas horas que aparecem pessoas enviadas a esta terra pra fazer caridade, e nos mostrar que Deus existe.

Um senhor que viajava sòzinho numa kombi, parou para nos prestar socorro. Sensibilizado com a nossa situação, gentilmente se ofereceu para nos levar até Salvador. Antes eu cuidei de empurrar o carro para dentro de um haras que ficava ali em frente de onde o carro parou. Uma moça abriu os portões e disse que cuidaria até que eu voltasse para apanhá-lo.

Este senhor da kombi, nos deixou na porta de casa, e só cobrou o preço do combustível.

À tarde fui com os três mecânicos buscar o carro.

Em Salvador, retiraram o motor e levaram para ser retificado. Deixei os pré-datados com o dono e fui comprar as passagens de ônibus.
Nos acomodamos em duas poltronas e fizemos uma ótima viagem.

Quando cheguei soube da notícia de que meu pai havia sofrido um AVC, e que estava em casa se recuperando. Por coincidência ele passou mal exatamente na hora em que acontecia o problema com o carro.

Dias depois chegam os três mecânicos com meu carro concertado. Traziam notas de combustível muito além da realidade.

- Meu rei, carro com motor amaciando gasta mesmo!

Traziam notas de conserto de pneus.

- Estrada ruim, meu rei!

Nota da compra de um pneu meia-vida. Notas de almoço em restaurantes da estrada. Notas de serviço da montagem do motor. Notas da mão-de-óbra pelos serviços.

Eram tantas notas, que eu precisava vender a brasilia para pagar os empréstimos que fui obrigado a fazer.

Mas não deu tempo. Ela foi roubada na comercial da 306 norte, enquanto eu jantava com Hugo e Liliah.

terça-feira, 27 de julho de 2010

A história da churrasqueira.

Eu tinha um Dodge Polara azul, que alem de ser um carro nada econômico, dava muitos problemas mecanicos, e era difícil encontrar as peças de reposição, por se tratar de um carro importado. Quando comprei este carro, tirei uma folga na sexta-feira e com meus filhos Leandro e Paula, fui para a chácara do meu pai passar o fim de semana.

Foi um dos melhores finais de semana que eu já passei na minha vida.

– Já vejo o morro careca! Gritava a Paula com uma alegria radiante. Esta frase virou o refrão da nossa música, e era cantada todas as vezes que chegávamos neste morro de cascalho vermelho.

A letra enorme, não vou escrever toda, só um pedaço.

– Já vejo o morro careca, já vejo o morro careca!
– Já vejo o morro careca, já vejo o morro careca!

Este sábado foi fundamental para que saísse do papel a churrasqueira que meu pai tanto queria fazer.

Tudo começou quando eu e Leandro começamos a cavar um pequeno buraco no chão, para improvisar uma churrasqueira de tijolos. Meu pai vendo aquela dedicação toda, perguntou porque estavámos cavando aquele buraco, logo ali, na saída para o quintal. Quando o Leandro disse que a gente estava fazendo a churrasqueira da chácara, ele então tomou a decisão de construir uma. Ela já estava nos planos do meu pai, até o desenho da planta já havia sido feita.

Neste mesmo dia, procuramos o João Prêto, nosso engenheiro, mestre de óbras e pedreiro. Uma reliquia do vale na área da engenharia. Basta dizer que ele foi o construtor da casa, e de quase toda área cimentada não só na nossa chácara, mais de boa parte do vale.

Quem não se lembra do castelinho construído na rua lá embaixo do morro?

Encontramos o João Prêto no bar do Bené, tomando uma lapada de para-tudo, um aguardente horrivel, mais muito apreciado pelos caseiros da região. Seu gosto era de cachaça misturada com licor de quinta categoria.

Rodamos as lojas de matérial de construções do Gama, e enchemos o porta mala do dodginho com tijolos, saco de cimento e uns pedaços de ferro, que serviriam de suporte para os espetos. Meu pai deixou os pré-datados no caixa da loja, e nós retornamos à base. Na tarde daquele sábado, João Preto arregassou as mangas e deu inicio às óbras. Com a planta na mão, analizava cuidadosamente os detalhes para que não ficasse nada fora do previsto. Inclusive os buracos onde seriam colocados os suporte de ferro.

O local escolhido foi no canto da varanda, onde a vista para o vale era privilégiada, e estratégicamente próximo a cozinha.

Tijolo aqui e alí, uma pá de cimento, acerta aqui e pronto. Nossa varandan jamais seria a mesma.

No domingo, surgiu imponente, na esquina da varanda, onde o vento literalmente faz a curva, nos 90º da casa, a nossa churrasqueira. Só ficou faltando inaugurar. Não deu tempo de assar a carne. Iria ficar para a próxima oportunidade. E oportunidade era o que não nos faltava.

Vários churrascos foram realizados nesta área.

Quem diria que aquele recanto da varanda seria tão divertido. O lugar mais procurado e o mais utilizado nas nossa frequentes reuniões.

Aquela obra erguida ali mesmo contra tudo e contra todos, até contra o vento, o que seria reprovado por qualquer churrasqueiro mais experiênte, deu um requinte especial as reuniões da nossa família.

Fiquei sabendo que ela foi demolida pela nova propriétaria por motivos de estética.

Dói!

sábado, 17 de julho de 2010

Fazenda em Santos Dumunt

Ainda era de madrugada quando papai nos acordou.
O frio que fazia nessa manhã era de doer os ossos, mas mesmo assim, saímos de casa todos muito contentes, afinal, estávamos indo passar um final de semana numa fazenda de verdade, destas que tem plantações e vacas. Ficamos colados uns nos outros para poder suportar o frio que fazia na estação. Só melhorou um pouquinho quando entramos no vagão quente da litorina, o trem prateado que nos levaria até Santos Dumont. Esta cidade é vizinha de Juiz de Fora, e levava aproximadamente duas horas de trem para chegar la. O dono desta fazenda era de um amigo que papai tinha na cidade. Há muito ele vinha nos convidando para conhecer a sua propriedade, neste dia papai resolveu ir e nos levar.
Enquanto o trem deslizava sobre os trilhos, podiámos observar a paisagem maravilhosa que os primeiros raios de sol nos proporcionava. A mata e os rios que cruzavam o nosso caminho, brilhavam como se tivessem luz própria. Quando chegamos na estação de Santos Dumont um senhor já nos aguardava. Ele encheu a velha Rural Willys azul e branca, e saímos pulando pela estrada de barro batido, cheia de ladeiras e curvas, jogando cascalho pra todos os lados até finalmente, depois de tantas porteiras, chegar a tal fazenda. A sede ficava encravada entre os morros verdes com enormes pedras que dava a impressão que cairiam em nossas cabeças a qualquer momento. Chegamos quase na hora do almoço, então ficamos por ali até que a mesa fosse servida. Começou uma chuva torrencial. Depois os adultos fizeram a tradicional siesta e nós brincamos na varanda da casa até a chuva parar. Não deu para conhecer um pouco da fazenda ainda naquela tarde pois a chuva não deu trégua. Neste dia o que fizemos mesmo foi brincar dentro da casa. Uma algazarra sem fim. Os anfitriões eram de paz, e suportaram numa boa a nossa bagunça. Nunca vi um pessoal tão tranquilo com crianças.
Na manhã seguinte o sol apareceu. Um senhor com uma carroça puxada por um velho pangaré veio nos buscar. Até que o cavalo deu conta do recado, pois devia ter umas seis crianças em cima dela. Saímos pelas estradas de terra subindo e descendo até que chegamos a um local onde ficava um enorme galpão. Tinha umas pessoas lá dentro queimando goiaba numa panela de ferro imensa. Eles faziam doce em produção comercial, e todos foram presenteados com pedaços generosos desta iguaria. Novamente na carroça, seguimos até o curral que ficava adiante. O cheiro da terra molhada se misturava com o de bosta de gado, e isso dava aquele autêntico aroma, se é que podemos chamar assim, de clima rural. Um almoço típico de fazenda. Arroz, feijão preto e carne de porco foi o cardápio deste dia. Até as quatro horas da tarde ainda estávamos curtindo este final de semana maravilhoso. Tempo limite para nossa partida. Fizemos o caminho de volta exatamente da mesma forma, estação, trem, frio e por fim em casa, cansados e felizes da vida. Ainda bem que tenho essa lembrança. Não gostaria de esquecer nunca este lugar!

segunda-feira, 12 de julho de 2010

BSB

Os cariocas que se mudaram contra a vontade para o planalto, comparavam a cidade a um cemitério. Eu discordo.

Brasília naquela década estava apenas no começo e é claro que não tinha uma identidade formada. As pessoas que aqui moravam viviam despreocupadas e sem medo. Não existia violência, não havia filas em postos de saúde nem faltavam vagas na rede pública de ensino, que por sinal era uma das melhores do país nesta época.
Os lugares badalados eram poucos e os preços cobrados separava bem as classes sociais, isso é verdade. Para se ter uma ideia, um jantar no restaurante do edifício Gilberto Salomão, chegava a custava mais de um salário mínimo da época. O bar do Chico na 105 sul, com seus tira-gostos de primeira e com preço bem mais em conta, virou ponto de encontro de médicos, professores , estudantes e funcionários públicos, o que fazia do bar um lugar bastante democrático. Para as manhãs de sábados, domingos e feriados, a melhor opção eram os clubes. Cada categoria era associada a um destes clubes. Isso acontecesse também nos dias de hoje. Os funcionários do banco do Brasil frequentam a AABB, da comera o ASCAD e por ai vai.
As noites aconteciam na 109 Sul onde os famosos restaurantes Beirute e Arabesk eram as opções mais badalas para a classe média e funcionava todos os dias da semana. Hoje só existe o Beirute. Outra casa que ficava na mesma quadra era o Socana. Caipirinhas de todos os tipos eram produzidas e vendidas nesta casa, que também mantinha filias no Gilberto Salomão do Lago Sul e no Conjunto Nacional. Eram deliciosas eu posso falar pois tomei muitas caipirinhas neste bar.
As reuniões aconteciam nos colégios, nas quadras, nos barzinhos enfim, aos poucos as pessoas foram criando a identidade da cidade e hoje é nítido saber quem é de Brasília e quem veio de outro estado. Hoje existem aqui os mesmos problemas de uma metrópole. O transito é um caos nas horas de rush, muitas obras de infraestrutura deixando a cidade mais difícil, porém elas são necessárias e surgem do nada a cada dia. O estouro demográfico se deve a distribuição irresponsável de lotes com fins eleitoreiros, que fizeram a cidade inchar de modo desordenado, perdendo com isso seu desenho original e seu plano de crescimento.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Festa no Pandiá

No capô do meu opala verde, quatro portas, 1970 etc.. etc... O Cascata vendia os ingressos para o baile de logo mais a noite, que ele subtraiu da secretaria do clube aproveitando o descuido da linda secretária que ele jurou ter namorado. Foi com o dinheiro arrecadado que garantimos as doses de bebida desta noite.
A fila era imensa e chegava quase em frente da casa do Pricken.
Tinha tudo para ser aquele baile, daquela época!
Lá dentro Queixada e Bareta já começavam a ensaiar os passos "John Travolta".
Confusão na fila. A turma do Cruzeiro. Os PE's resolveram. Uns entraram outros foram embora.
Era sempre assim que começavam os bailes famosos do Pandiá.
O barulho em frente a casa de Seu Valadares, não podia ser pior. Ele, administrador do clube, saia e dava broncas em todo mundo. Afinal, o clube era responsabilidade dele, e a rua em frente a sua casa também. Lá dentro já se encontrava boa parte da galera. Seu Herculino estava na catraca conversando com o Horácio e o Lima. Os diretores estavam atentos, e indicavam aos porteiros, quem eram os convidados e quem eram os intrusos.
- Pai, estes dois aqui são meus amigo!
- Deixa passar estes dois ai.
Foi assim que Edson "neguinho" e seu irmão entraram no baile. Os dois estudavam comigo no ginásio do cruzeiro.
Careca e Newton "suru" acabavam de chegar com a Angélica. Engraçado, a mulher nem entrou no clube e já tinha gente disputando quem iria dançar com ela. Ramilsom colou e não largou mais.
Madalena sem namorado. Era um prato feito, se não fossem os irmãos tão ciumentos.
Nara e Jane acabaram de entra com o Luiz Loloca. Nara era linda, mais já estava comigo, apesar do Ricardo da QRO, viver atormentando a vida dela com essa história de amor-eu-te-amo-mais-que-ele! Esse a turma de amigos não deixava entrar.
As luzes negras e a música lenta enchiam o salão. O rala-e-rola começava e era tão bom!
Vez por outra surgia uma briga: Allan e Mauro respectivos namorados das minhas queridas irmãs Bel e Miriam, certa vez acharam que meu pai tinha se envolvido numa briga, pois ele estava sangrando e tinha alguem puxando ele pelo braço. Não era nada disso, papai apenas caiu e bateu com a cabeça na ponta de uma mesa. Por causa deste malentendido, teve até gente prêsa. Bebeto e Dadá faziam as vezes de intelectuais, e tinham uma turma só deles, mais na hora era todo mundo junto mesmo. Os papos as danças e as aparições eram comentadas por meses. Biloca, Gila, Bigas, Fernando "bundinha" curtiam a idade deles com os papos de futebol. Charuto, Cascata e eu éramos mais da palhaçada e da reparação. A gente comentava as roupas, e os trejeitos da galera.
- Tá vendo aquela ali? Pois é eu ja comi... (mentira!) Era tudo fofoca!
Minha mana Keka estava começando, ela rodava pelo salão de mesa em mesa conversando com um e com outro. O Dimas e sua prima que era "emperrada" para aceitar convite de dança. O Tande bem que tentava, mais quem dançava com ela era o Mineiro. Dizem até que eles namoravam escondidos. E Ligia e Tequinha, coitadas com o Costa Ferreira que não tirava os olhos das filhas amadas.
De repente as luzes começaram a piscar, e como um passe de mágica, o salão era invadido por uma mutidão que pulava e dançava ao som do Bee Gees. Era mais ou menos assim que as coisas aconteciam quando havia baile no Pandiá.

Verdadeiros embalos de sábado à noite!


domingo, 27 de junho de 2010

Acampados em Luziania - GO

Foi em Julho, só não lembro de que ano.
Juntamos os trocados, fizemos as compras de supermercado, quase tudo pronto para o mais desorganizado acampamento que fiz na vida.

Julho é frio. Cadê os cobertores?
Ninguém lembrou desse detalhe, e a noite só conseguimos dormir graças a jornais doados por uma senhora.

Muitos cigarros e pouca comida.
Os sacos plásticos com maços de cigarros ultrapassou em muito os de comida. Acho que a turma esqueceu que cigarro não mata a fome. Só o fumante.

Sabonete, pasta de dente, o que é mesmo isso? Ah toalhas, tá bom!
Na próxima a gente lembra disso.

Armaram um para-quedas na copa de uma árvore muito alta que havia no local.
A noite, para espantar os mosquitos, queimaram bosta de boi, dentro da barraca. Deu certo, os mosquitos foram embora. Eles e nós. Porque ninguém conseguiu ficar lá dentro sem passar pela experiência da morte por asfixia.

Essa desorganização durou três dia. No último dia, tivemos que escolher entre o pão e as passagens de ônibus para voltar.

Quando chegamos na manhã de sexta-feira, tudo era alegria. Corre-corre para cair nas águas geladas do lago artificial que existia em Luziania. Na beira deste lago, montamos acampamento. Ninguém tinha carro nesta época, então o acampamento foi planejado para ficar perto de um bairro que tivesse tudo. Só que lá não havia nem bairro, muito menos tudo. Ao cair da tarde, é que fomos pensar em armar o para-quedas que serviu de barraca para todos. Éramos oito e até que deu para acomodar todo mundo. A noite, porém, tivemos que procurar jornais pelas redondezas pra gente poder dormir, por que ninguém aguentava o frio. Fizemos uma fogueira e passamos a primeira noite acordado. Lembro que fizeram café umas dez vezes nesta noite. O pó acabou.

11h Resolveram atravessar o lago a nado. Quase morri. Quando achei que estava raso, deixei que meus pés tocassem o fundo do lago. Era pura lama, e eu afundei nela. No desespero, sai juntando as últimas forças que me restavam, e desmaiei em solo firme.
Algumas meninas de Luziania apareceram no sábado. Elas me apelidaram de Tony Ramos.
Fizemos uma festinha com elas até o entardecer.

Esconderam os cigarros. O desespero caiu sobre os fumantes.
Depois de muita tortura, acharam os culpados.

A noite, já escaldados pela experiência do dia anterior, acendemos uma fogueira do lado de fora da barraca, ela espantava os mosquitos, e nos proporcionou uma noite melhor que a anterior. O frio já não era tanto graças aos jornais, que também tiveram outra serventia. Começava mais um dia. Sem café e sem pão. Preparam uma mistura de ovos com salsichsa que estava ruim demais para comer.

Sem dinheiro, resolvemos voltar ainda na manhã daquele domingo.
Marcaram uma reunião a tarde, para tratar do próximo acampamento.
Ninguém compareceu!

Rua Dr. Oscar Vidal - Juiz de Fora

O trabalho voluntário executado pelos meus pais na paróquia da Glória, teve um aspecto social muito importante, pois agora o nosso ciclo de amizades estava mais aberto, e não só restrito à rua onde eu morava. O casal Pimenta, passou a fazer parte da nossa vida, e foi sem dúvida alguma, bons momentos aqueles que passei na companhia deles. A familia morava na Rua Dr. Oscar Vidal, no centro de Juiz de fora, e vez por outra era convidado a passar o final de semana com eles. Os filhos deste casal, passaram a ser grandes amigos, e seus apelidos Huguinho, Zezinho e Luizinho, fui eu quem colocou em homenagem aos sobrinhos do Tio Patinhas, que eles tanto gostavam de ler. Às vezes fico recordando aquele momentos de alegria e de brincadeira que vivemos. Logo na primeira vez que fui convidado para um almoço na casa dos Pimentas, fiquei muito acanhado mas eles eram tão educados, que ao perceberem minha timidez, trataram logo de puxar conversa e a mostrar coisas interessantes, como a coleção de gibis os álbuns de figurinhas e a mesa de ping-pong, que alias, foi onde passamos o resto daquela tarde jogando.
Em outras visitas, sem muitas cerimônias, pois já os conhecia, passei sair com eles para conhecer outras crianças e a participar das brincadeiras de rua praticadas por eles. Era comum ver grupos de criança descendo a ladeira da Oscar Vidal com seus carrinhos de rolimãs, cada um mais incrementado que o outro, e chegava a uma velocidade incrível, ajudados pela geografia da rua. Era normal ver acidentes acontecendo com os pilotos nesta brincadeira. Eu mesmo perdí o controle quando fazia a descida em uma destas "ferraris". Quando tentei freiar, quebrei a alavanca e tive que usar o freio pedal, ou seja, meter o pé no cimento. Só parei quando meti a fuça numa lixeira de borrachas que estava na frente de uma das casas. Lembro que foi lixo espalhado para todo o lado. A senhora xingou muito e fez eu pegar um por um todo o lixo que deixei pela rua devolvendo tudo a lixeira. O resto da galera riu muito nesta manhã.
Outra brincadeira que participei, foi a dos pneus. Apanhávamos os pneus velhos em alguma borracharia e com um pedaço de pau, íamos tocando eles rua abaixo. Verdadeiras manobras eram feitas com estes pneus. Quando queríamos fazer uma curva mais brusca, forçávamos o pneu para o lado com a madeira, até que ele deitasse e fizesse a manobra completa, então voltávamos para a posição normal. Tudo era feito com muita perícia e velocidade, com a gente correndo atrás deles. Acontece que nem sempre tudo sai exatamente como fora calculado, então os acidentes vez por outra aconteciam. O mais comum era perder o controle deste possante veículo,deixando que despencasse, pulando ladeira abaixo, e destruindo tudo que encontrasse pelo caminho, inclusive jarros de plantas, lixeiras, cadeiras entre outras coisas, só parando quando batia em algum carro que estivesse na hora, trafegando na movimenta avenida Barão de Rio Branco. O motorista acidentado bem que tentava encontrar o culpado pelo acidente, mas ao olhar para cima podia ver que estava diante da rua mais pacata de Juiz de Fora, e que teria de arcar com o seu prejuízo sòzinho. Nenhuma criança ousou sair mais de casa neste dia.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Padre Frederico - continuação

O bairro Santa Catarina, foi um dos melhores lugares que eu morei até hoje. Com dez anos, eu curti muito esta mudança. Na primeira vez que entrei na casa, fui reparando nos cômodos, no tamanho da sala, na posição dos quartos no corredor, até parecia que eu já havia morada por la. Um lugar que eu gostava muito, era a varanda que ficava nos fundos, logo depois da porta da cozinha. De lá se avistava o bairro de Lourdes, lembro que quando era dia da padroeira, a gente podia ver as luzes das velas dos fiéis iluminando a procissão. Uma pequena escada de cimento, dava acesso ao quintal e ao quarto de dispensa. Esse quintal era uma maravilha. Além de grande, tinha outro lote vazio que descia até a outra ponta da rua, onde terminava num grande muro de placas de cimento. Ali crescia o mato, e sobrava para o meu pai, a árdua tarefa de limpá-lo. Na parte de cima, no recanto do muro, havia um lote de pés de bananeira, que fazia sombra para as nossas brincadeiras. Neste recanto ficava as rodovias por onde circulavam os nossos carrinhos de brinquedo. Em frente a varanda que ficava na frente da casa, tinha um jardim com uma planta arredondada, espinhenta e comprida, que completava o visual da fachada. Na lateral oposta ao quintal, tinha um beco estreito, que fazia toda a extensão da casa, e acabava nos degraus em frente ao quarto de dispensa. Neste canto funcionava a minha fábrica de brinquedos. Com o martelo e um serrote cego, eu construía ali, meus caminhões, máquina de enrolar linha, e armas de brinquedo que faziam o maior sucesso. Eu fabricava as balas de pau, que seriam disparadas com a ajuda de um pedaço de borracha de câmara de ar. O gatilho era de arame, e servia para liberar a bala que ficava apoiada no cabo do revolver. Algum irmão deve se lembrar da dor que estas balas provocavam quando acertavam agente.

Frequentando a praça da rua, começamos a fazer amigos.

As amizades foram começando devagar, e em pouco tempo já tínhamos uma rua inteira de amigos. As brincadeiras eram frequentes e aconteciam sempre nesta pracinha, ou nos terrenos baldios que naquela época existiam em grande quantidade. Também nesta rua ficava o cemitério. A gente assistiu a enterros de muita gente desconhecida. Ficamos acostumados com este ritual, e até usávamos o lugar como atalho para irmos a igreja.
Nossa brincadeira preferida nas férias, era empinar pipas, ou papagaios, como era chamada a pipa quadrada com enfeites laterais. Milhares destes papagaios podiam ser vistos colorindo o céu de Juiz de Fora. Para cada papagaio empinado, existia um grupo de meninos que ficavam ali apreciando as manobras aéreas e os cruzamentos com as outras pipas. Antes destes papagaios ganharem o céu, era preciso preparar o cerol que seria usado na linha. Para que o cerol ficasse bom, era preciso moer os cacos de vidro, até virarem pó. Era comum avistarmos nas linhas dos bondes, uma caixinha de fósforo sendo esmagada. Nestas caixinhas eram colocada os cacos de vidro de lâmpadas e depois era colocada nos trilhos. O melhor cerol era feito com estes procedimentos. Com técnica e um bom cerol, nós garantíamos a nossa pipa no céu por mais tempo.
A amizade de meus pais com os padres, os levaram a participar do Movimento Familiar Cristão, que era realizado na paróquia da Glória, onde aconteciam as reuniões duas vezes na semana. Este movimento consistia na ajuda onde casais experientes, transmitiam toda a sua experiência para outros que passavam por alguma necessidade, tanto financeira, ou mesmo desavenças familiar. Estes casais recebiam ajuda como leite em pó, que era doado por instituições norte americanas, eu me lembro que chegava lá em casa um monte de sacos com este leite, ou simplesmente recebiam uma ajuda com atos, ou palavras de conforto espiritual. Pelo menos uma vez por semana, o padre Jaime estacionava o seu jeep na porta da nossa casa, para apanhá-los. Cabia a mim, a missão de tomar conta dos meus irmãos nestas noites de ausência paterna. Lembro que o trabalho não era fácil. Colocar a galera para fazer os deveres de casa, conferir cada tarefa uma-a-uma, e depois dos dentes escovados colocá-los para dormir. Numa destas noites, caiu uma tempestade daquelas. Parecia o fim dos tempos. Relâmpagos iluminavam a nossa casa, e expunha com seu brilho tenebroso, as cruzes brancas dos túmulos, lá no cemitério. O cenário era macabro. Eu pedia para todos ficarem quietos que logo tudo passaria, mais eu mesmo era talvez o que estivesse com mais medo. Para piorar, faltou luz. Ai o caos ficou completo. O chororô foi geral. Minhas irmãs se atiram pra debaixo da cama, e eu só via os olhinhos brilhando com as lágrimas por causa dos clarões dos relâmpagos. No tato consegui encontrar velas e fósforos, aliviando assim a tensão. Aos poucos o temporal foi se dissipando e o sono caiu sobre todos. Meno para mim, que continuava morrendo de medo, olhando para aquele anão sentado na mesa da sala. Era o que parecia a farda que meu pai deixou no encosto da cadeira, que com o efeito das chamas das velas parecia se movimentar. Pouco depois o jeep chegou, e meus pais ao entrarem em casa, encontrou todos dormindo o sono dos anjos.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Um passeio ao Rio de Janeiro

Uma ferida apareceu bem no meio da minha canela. Era feia que doía, e não sarava de jeito nenhum. Formava uma casca grossa e escura, eu coçava e ela caia, depois sangrava, criava casca e começava tudo de novo. Isso foi no ano de 1966 eu ainda iria completar 11 anos, e meu pai trabalhava no Hospital Central do Exercito, no Rio de Janeiro. Nós morávamos em Juiz de Fora com mamãe, e ele todo final de semana vinha nos visitar. Para tirar o dinheiro da viagem, ele levava de Juiz de Fora, meias para vender no Rio, e do Rio ele trazia umas linguiças para vender em Juiz de Fora. Num final de semana desses que meu pai nos visitava, minha mãe conversou sobre esta ferida, e convenceu o meu pai a me levar para o Rio com ele, para eu ser tratado no HCE. Então eu passaria a semana toda com meu pai lá no Rio. Tudo acertado, lá vai eu e papai às cinco horas da manhã, descendo as ladeiras de Juiz de Fora à pé, rumo a estação rodoviária, para pegar o ônibus para o Rio. Mais uma vez eu me encantava com a estrada Rio-JF, aquelas serras, os rios que nos seguiam pela viagem, era tudo muito bonito. Ainda hoje estas paisagens me enchem os olhos. Quando chegamos no Rio, fomos direto para o bairro de Triagem, onde fica o HCE. Meu primeiro dia, foi dentro deste hospital. O médico examinou a ferida, os enfermeiros fizeram uma limpeza que doeu para cassete, e colocaram umas pomadas e depois enfaixaram. Pronto. Estava tratado e com uma faixa branca na perna. À noite, meu pai me levou para Bento Ribeiro, onde morava um amigo de trabalho. Lembro dele, muito gente boa, sua família me recebeu como se eu fosse seu próprio filho. Neste dia assisti um programa de humor na TV, e fui dormir ainda com dor, devido ao tratamento da perna. No dia seguinte, quando acordei, papai já havia saído para o trabalho, eu fiquei meu sem jeito, mais o filho deste senhor, me chamou para descer e brincar na rua com outros amigos seus. A manhã passou rapidinho e na hora do almoço, papai me falou que não ia trabalhar de tarde, para a gente poder dar uma volta pela cidade. Passeamos de ônibus, por vários lugares do Rio. Lembro da passagem por São Cristóvão, depois pelas praias de Botafogo, Flamengo e por fim Copacabana, onde sentamos num bar que ficava virado para o mar, no posto 6. Meu pai tomava chopp e eu guaraná Antartica. No som do bar tocava a musica Michelle dos Beatles, e em seguida, Que tudo mais vá pro inferno, de Roberto Carlos. Esta eu ouvi pela primeira vez, la no Rio. De frente para o mar, e sem poder entrar na água, pedi a papai para me deixar andar na areia. Meu pai disse que não, por causa do curativo. Mais mesmo assim, eu insisti, e ele me deixou por os pés na areia, só para matar a vontade. Esta semana passou muito rápido. Voltamos para casa, e até hoje ainda tenho no meio da canela da perna esquerda, as marcas desta ferida.
Neste tempo, meu pai pensava em nos levar para morar no Rio. O problema era o prêço dos aluguéis. Tenho a lembrança dele conversando sobre isto com mamãe. Mais meu pai não desistiu da idéia e continuou procurando uma casa para a gente morar. Uma vez ele foi convencido a entrar num empreendimento imobiliário,que estava sendo construído em Paciência, um local bem distante do centro do Rio. Eu cheguei a ver o local ainda em construção. Não sei como meu pai imaginava colocar todos nós naquela construção tão pequena, que mais parecia um pombal.
Era assim: Uma minúscula sala, um banheiro muito pequeno, uma cozinha que praticamente ficava embaixo da escada que dava acesso aos dois quartos lá em cima. Tudo muito pequeno, nem espremendo daria para a gente morar. Mas, o construtora faliu, o negócio não foi pra frente, meu pai amargou um prejuízo, e nosso destino não foi alterado, graças a Deus. Fico imaginando se por acaso, tivesse dado certo. Um dos meus irmãos seria jogador profissional, e hoje estaria talvez treinando um time lá pelas Laranjeiras.Outro seria líder comunitário, e estaria administrando a campanha para vereador. Uma irmã trabalharia na agência Paciência, de algum banco. Será que alguma delas viraria uma passista de escola de samba? Qual delas escreveria contos retratando personagens do bairro? Quem será que iria preparar uma feijoada bem gostosa nos finais de semana? Quem já estaria aposentado? Sei lá! Melhor eu ir logo pegar as cervejas.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

História e molecagens

1

Uns meninos que moravam na quadra, fizeram um boneco de pano com 1,50mt, igual ao "judas" das malhações de sábado de aleluia. Subiram com ele até o teto do bloco, isso à noite. As pessoas la embaixo, assim que repararam aquele vulto lá em cima, imaginaram logo se tratar de um suicida que estava prestes a se atirar lá de cima. Começou então uma gritaria, um desespero para tentar evitar a tragédia. Gente pedindo pelo amor de Deus, para que "ele" não pulasse. Que a vida era bela, para ele não fazer bobagem etc.. etc.. Os meninos então, indiferente aos apelos, jogaram o boneco lá de cima, então, as pessoas apavoradas, começaram a gritavar sem parar, algumas correram para longe com medo, outras tentaram socorrer o "suicida", que tinha despencado. Quando descobriram a farsa, olharam para cima e viram só as cabecinhas dos moleques se acabando de rir. Foram todos apanhados pelos porteiros. Uma senhora idosa, sentiu-se mau. Muitos apanharam dos pais naquele dia. Alguns, de quebra ficaram meses de castigo, sem poder descer para brincar depois das aulas.

2

Existia a famosa bola "perereca", feita com uma borracha sintética especial, que fazia com que a pequena bola pulasse mais que as comuns. Esta bola preta e muito pesada, foi moda na década de setenta. Quando atirada ao chão, ela subia na mesma velocidade que descia, e com muito efeito. Uma vez, eu atirei uma destas bolas, do vão da escadaria do prédio onde morava, do quinto andar. Resultado: A bola desceu, bateu na quina de piso, se desgovernou, e na velocidade que veio, acabou quebrando os vidros da portaria que ficaram estilhaçados e espalhados pelo chão. Até então ninguém sabia dizer quem teria quebrado aquela vidraça.

3

Um casal de namorados, se sentava todas as noites no mesmo banco do parquinho do bloco K, e ficavam ali se beijando e se agarrando por um bom pedaço da noite. Eu mais uma turma, compramos umas bombinhas e colocamos o pavio num toco de cigarro aceso. Bem devagar e sem sermos percebidos, colocamos a bomba por traz do banco em que eles estavam sentados. Logo que a brasa atingiu o pavio, a bombinha explodiu.
Resultado: Foi uma gritaria, um corre-corre, o macho do namorado desmunhecou e gritou feito gay angustiado. A menina desapareceu aos prantos. Nunca mais os dois foram vistos namorando embaixo do bloco.

4

Enchi vários balões daqueles de festa de criança com água, e fiquei no meu quarto esperando as vitimas passarem por debaixo janela. Quando elas apareciam, eu soltava os mísseis tentando acertar na cabeça delas. Mesmo errando o alvo, o susto era enorme quando os balões estouravam jogando água pra todo lado. Lembro de uma vez que uma menina, muito bem arrumada estava abrindo a porta do carro para sair. Pelos trajes, podia-se imaginar que iria a uma festa. Acertei ela em cheio.
Resultado: Acho que nem precisa falar muito o que aconteceu. Muito choro e muitos palavrões. Coitada da minha mãe! Nesse dia ela não virou santa por pouco!

5

Um dia, uns meninos apareceram oferecendo bolo confeitado e guaraná antártica tipo caçulinha, dizendo eles que era de uma festinha de aniversário que estava acontecendo no outro prédio. Rapidamente aceitamos e comemos tudo até o último pedaço. Por causa do lanche, estes meninos fizeram o maior sucesso. Jogaram com a gente, dentro da maior diplomacia. Viram heróis naquela noite. Depois ficamos sabendo que eles tinha apanhado a guloseima, de uma macumba que alguém colocou na entrada da quadra.
Resultado: Passei muitos dias sem poder nem olhar para bolos de chocolate com recheio branco.

6

Para encerrar este bloco, vou relatar aqui a mais maldosa de todas as brincadeiras de mau gosto, de que tenho lembrança. Havia um garoto chato pra caramba, que ninguém gostava de brincar com ele. Então, certo dia eu e um amigo, estávamos voltando do colégio, quando passamos pela obra de um prédio que estava em construção na quadra 106. Lá haviam muitos buracos, que serveriam para a base onde seriam erguidas as pilastras do edifício. Eram grandes mesmo. Ficamos certos de voltar algum dia para explorar aqueles buracões. Dito e feito. No dia que resolvemos ir a obra, encontramos o chato do cara embaixo do prédio. Ele nos seguiu até o local onde ficavam os buracos da obra. Nem ligamos para ele. Quando chegamos, nos certificamos que não havia nenhum vigia para encher o saco. Depois de posse de uma escada que apanhamos ali mesmo, começamos a descer até o fundo de um dos buracos. Era de dar medo. A gente olhava para cima, e via aquela bolinha de azul no céu. E nós lá embaixo na escuridão. Matada a curiosidade, subimos e já estávamos saindo da obra, quando vimos que o moleque tinha resolvido descer também. Na mesma hora, resolvemos voltar para ver. O meu amigo, quando viu o cara lá embaixo, depressa me chamou para ajudá-lo a retirar a escada, que eu lembro, que era bem pesada. Retiramos a escada, e o moleque ficou lá embaixo, sem ter como sair. Ele começou a chorar, e pedir desesperadamente, para a gente colocar a escada para ele poder subir. Então começamos uma série de chantagens.
- Só se você disser que é bobão.
- Só se você nunca mais seguir a gente.
- Só pagando uma coca-cola...
etc..etc.. e por ai foram um monte de asneiras seguidas. E o moleque chorando.
Chorou mais ainda, quando a gente fingiu que ia embora.
Claro que colocamos a escada de volta para ele poder sair.
Depois que ele subiu, bateu em disparada fugindo da gente.
Durante dias ele nem quis saber de chegar perto da nossa turma. Levou muito tempo, até que a gente esquecesse o que aconteceu naquele dia.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Brasília - Natal a viagem.

Estava a muito tempo alimentando a vontade de passar uns dias em Natal para rever a família e matar saudades do mar que não via há tempos. Aproveitei o dinheiro que recebi de indenização para comprar as passagens, e logo após as festas natalinas, embarquei num ônibus da viação Planalto na noite do dia 26 de dezembro do ano de 1971. Eu tinha consciência do tempo da viagem que seria de mais ou menos trinta e oito horas e também do péssimo estado em que se encontravam as estradas nas quais teria que passar. O embarque foi divertido e demorado pois alguns destes passageiros carregavam uma verdadeira mudança. Foi um custo acomodar tantas caixas, malas, sacolas e até um fogão novinho em folha, no compartimento de bagagens. Nossa partida atrasou em quase meia hora.
Na madrugada já estávamos sofrendo as consequencias da buraqueira. Era só o começo. Haviam trechos sem asfalto e com barro mole por causa das chuvas que caiam com frequencia nesta época do ano. Essa lama fazia o nosso ônibus tombar de um lado para o outro numa barulheira de molas que doía nos ouvidos. Para piorar a situação, do meu lado viajava um paraibano que estava retornando para a sua terra, depois de ter trabalhado cinco anos em Brasília. Este cidadão a cada parada que o ônibus fazia, tomava umas pingas e depois caia no sono. Vez em quando ele despencava por cima de mim, e eu tinha o maior trabalho para colocá-lo de volta a sua poltrona. E o bafo! Mais isso era detalhes.
Minha maior curtição era observar as mudanças que iam acontecendo na paisagem. Primeiro foram as árvores tortas do cerrado, depois, já em minas, eram as matas nas encostas das serras e os rios que apareciam de vez em quando dando um colorido maravilhoso a viagem. Amanhecemos em Montes Claros ainda em Minas Gerais, onde tomamos o café da manhã. Depois seguimos para a cidade de Teófilo Otoni onde jantamos e fechamos o primeiro dia da viagem.
Tentei dormir esta noite mais foi impossível. O ônibus passava por um trecho muito esburacado e com curvas acentuadas. Foi terrível. Não conseguí pregar os olhos um instante sequer.
Como é grande Minas Gerais! Não sei ao certo quantas horas nós levamos cortando este estado. Curvas, serras, neblina e rios que tocavam suas margens na beira da estrada, dava o toque especial a paisagem. Isto é Minas. As BRs que recortam o estado, estão entre as mais perigosas do país. As que carregam maior índice de acidentes, porém, são as que tem as paisagens mais bonitas. Impossível viajar por Minas sem se encantar.
De repente o nosso veículo entrou num cenário maravilhoso. Um por de sol inesquecível deixou o céu avermelhado na divisa entre os estados de Minas Gerais e Bahia. Estávamos rumando para a cidade de Vitória da Conquista, onde faríamos uma parada demorada. Decidi que eu procuraria um local para tomar banho pois eu já me sentia incomodado com quase dois dias de sujeira e com aquele calor só fazia aumentar. Nesta cidade chegamos a noite, não lembro bem que horas foi exatamente mais já era tarde. Paguei caro por um banho que valeu a pena, jantei e quando encaramos a estrada novamente, cai no sono com vontade.
Quando amanheceu, estávamos deixando pra trás os montes de pedra típicos da chapada diamantina. Uma curiosidade neste local era os leitos dos rios sem água, e também as enormes aranhas caranguejeiras que vez por outra podiam ser vistas atravessando a BR.
A paisagem foi mudando novamente. Apareceram os açudes, as cercas de pau entrelaçados bem típico do nordeste, e a cor da areia mudou de avermelhada para branca. Começou a aparecer gente na beira da rodovia. Muitas crianças só de calção, alguns com pás, fingiam que tapavam buracos no asfalto, para pedir comida e dinheiro. Neste momento o ônibus se arrastava por causa do péssimo estado de conservação. É pena saber que quase quarenta anos depois esta cena se repete. Pouca coisa mudou.
Entramos na Paraíba. Na cidade de Pombal, felizmente o meu companheiro de poltrona desembarcou. Na despedida ele me ofereceu um copo pela metade de cachaça e disse que eu não deveria rejeitar, pois ali onde ele morava, isso era considerado uma grande desfeita e gente morria por isso. E eu, que não queria morrer tão cedo, tomei tudo de uma golada só.
Passamos num vilarejo cheio de bananeiras, e que mais parecia um enorme quintal. Uma maravilha de lugar que marcou esta viagem. Não sei o nome da vila, só sei que era muito bonito. Não tinha asfalto, a estrada era de barro batido e o ônibus circulava entre as folhas desta bananeiras que produziam sombras no local. Ali, crianças brincavam e tomavam banho junto com galinhas, bodes e vacas magras que matavam a sede na beira deste açude.
Horas depois estávamos em Campina Grande. Foi uma parada demorada. O motorista mandou que todos descessem e o veículo foi levado para a garagem onde foi abastecido e lavado. Quase uma hora depois seguimos nossa viagem num veiculo vazio e sem cheiro ruim no banheiro.
Duas horas depois estava dentro de um táxi em Natal, seguindo para a rua São João, onde moravam os meus avós.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

306 norte - continuação


O meu quarto era invadido por luzes que refletiam no teto deixando uma aparência azulada em todo o cómodo. Estas luzes eram provenientes de um posto de gasolina que funcionava vinte e quatro horas e que ficava na rua que dava acesso a entrada da quadra. Nas noites quentes e secas de Brasília, incomodado pela invasão de mosquitos, que entravam em bandos pelas janelas, algumas vezes sem sono e ficava observando o movimento naquele local. O posto, nos finais de semana, era ponto de encontro da rapaziada que paravam seus carros ali, ligavam o som no último volume, acordando um bocado de gente. Uma vez, me lembro de um sargento que saiu para reclamar, e provocou um verdadeiro tumulto no local, sendo necessário a presença da polícia para acalmar os ânimos.Sair cedinho para a padaria, já era uma tarefa minha. Atravessava a W3 vazia, para comprar pão e dois litros de leite da marca Gogó, pasteurizado e embalado em saquinhos de plástico, bem diferente do que tomávamos em Juiz de Fora, entregue de carroça pelo leiteiro, em garrafas de vidro. Meu pai dizia que cada dia ele, o leiteiro, misturava mais água ao leite. Era só brincadeira, crescemos tomando aquele leite, sem nenhum problema. Em 1968 a W3 era tão vazia, que por vezes organizávamos as nossa “peladas” ali, bem no meio da rua, pois quase não tinha movimento de veículos. Quando aparecia um carro, interrompíamos o jogo deixando o veículo passar, depois continuávamos novamente. Tento imaginar estas cenas nos dias de hoje. Seriamos todos atropelados, pelo progresso.Um acontecimento muito importante para nós, foi quando montaram um parque de diversões do outro lado da rua, bem em frente a nossa quadra. Era uma oportunidade ímpar, pois divertimento, em Brasília nesta época, era algo raro. À tardinha, antes do anoitecer, de banho tomado e bem arrumados, atravessamos a rua para conhecer o lugar. Mamãe estava conosco, e era ela quem comprava os ingressos para os brinquedos. Uma espécie de barca de madeira que subia e descia carregada de gente, era a mais concorrida muita gente curtia a brincadeira, tinha também o trem fantasma, o carrocel e a roda-gigante. Mas a minha barraca predileta era a do tiro-ao-alvo. Uma espingarda velha e quase sem pressão disparava rolhas desgovernadas, que saiam do cano em zig-zag e sempre erravam a mira. Eu reparei que algumas pessoas colocavam tachinha na rolha para elas ficarem mais pesadas, o que melhorava a pontaria. Fiz isso e deu certo. Minhas irmãs ganharam bichos de pelúcia neste dia.Dois anos passaram rapidamente e tivemos que trocar de bairro. Foi uma despedida dolorosa, pois todo nós estávamos bem acostumados com a convivência nesta quadra. Os amigos, as brincadeiras, a namorada, e a escola, tudo isso foi ficando para trás. Mudamos em fevereiro de 1970, e eu só retornei para uma visita breve ao amigos, no mês de maio, quando fui na bicicleta que ganhei de aniversário. Eu, acompanhado de outros dois amigos, pedalamos do setor militar até la, pegando atalho pelo mato, onde hoje fica o autódromo, e o departamento de transito do distrito federal. Dei uma volta completa, revi amigos e retornei mais tarde, feliz da vida. Foi a última vez. Não lembro de ter voltado por lá naquele ano. As visitas foram ficando cada vez mais raras, a medida que os meus amigos se mudavam. O ano passava rapidamente, e em meados de setembro, recebemos a visita do major Jorge, chefe do serviço de embarque, e consequentemente, chefe do meu pai. Ao ser apresentado a este senhor, sem nenhum constrangimento, pedi a ele que me arranjasse um emprego. Ele prometeu e cumpriu. No dia dezessete de novembro deste mesmo ano, ainda com quinze anos de idade, começava a carreira de office-boy na empresa de mudanças As Preferidas, de propriedade do Sr. Júlio, com sede no Rio de Janeiro e com filial em algumas capitais do país. O meu serviço não era lá estas coisas todas, e eu ganhava só a metade do salário mínimo. O escritório ficava na Galeria Amazonas, no Setor Comercial Sul, no centro da cidade. Lá eu lavei banheiros, o vidro da entrada, varria os tapetes, e fazia serviço externo como pagamento bancário e serviços de cartório, entre outras coisas. O gerente Sr. Aloisio, comprou um manual de datilografia, e sugeriu que eu treinasse nas horas de folga. Em pouco tempo eu já sabia escrever nas máquinas eletricas, as mais modernas que haviam. Este gerente, demonstrava que gostava de mim. Sempre tentava de um jeito ou de outro me ajudar, porém eu era muito tímido, e isso me atrapalhava um pouco. Eu tinha vergonha de quase tudo. Até de almoçar com eles. Quando era convidado, arrumava sempre uma desculpa para não ir. Meu almoço por muitas vezes, era um copo de vitamina com pão e manteiga. Não que eu não tivesse o dinheiro do almoço, mais era por pura vergonha de me sentar a mesa nestes lugares.Morria de medo de “pagar um mico” na frente dos outros. Mas aos poucos, fui vencendo a timidez, e antes mesmo de completar um ano como office-boy, fui promovido para um trabalho externo, que consistia em fazer a vistoria dos móveis na casa dos clientes. Junto com meu instrutor, o Luiz Augusto, fui aprendendo a técnica de calcular a metragem dos móveis que seriam transportados, assim como definir o tipo de embalagem ideal para cada um deles. Quando o dono da empresa, Sr. Julio, desembarcou em Brasília para uma visita técnica, onde pretendia abrir uma filial na cidade de Goiânia, fui convidado para compor o grupo que visitaria aquela cidade. E assim, confortavelmente sentado no banco dianteiro do Dodge Dart prêto, viajei com eles para o Goiás. Quando cheguei em Goiânia, lembro até da musica que tocava no rádio do carro. Have You Ever Seen The Rain, do Credence. Gostei tanto desta cidade, que ainda hoje, sempre que posso, aproveito por la o final de semana.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

SQN 306 - 1968

Foto da SQN 312

No inicio do mês de dezembro de 1968, meu pai desembarcou com a sua tropa composta por mamãe e mais oito filhos, na rodoviária de Brasilia. Chegamos numa manhã muito bonita, e não tem como não se encantar com o céu limpo desta cidade. Nosso primeiro destino seria a SQN 312, onde passariámos o final da semana no apartamento de um amigo, até que meu pai recebesse as chaves do apartamento da SQN 306, onde iríamos morar em definitivo. Ao desembarcarmos, nos esprememos dentro de dois taxi. Cada um seguiu com uma metade da família dentro. Aconteceu um contratempo, porque um dos taxi foi parar na SQS 312, do outro lado da cidade, enquanto que o outro seguiu para o seu destino normal, a Asa Norte. Não dá para saber se o motorista entendeu mal, ou se agiu de má fé, lembro que meu pai não gostou, e o motorista não cobrou a diferença pelo erro, ficando o valor da corrida com o prêço idêntico ao do taxi que fez o trajeto correto. Como eu, estava no carro que errou, conheci um pouco mais de Brasília logo no primeiro dia. Depois do almôço, desci para passear pelos gramados da quadra, tudo era novidade. Embaixo do prédio, entre os pilotis, havia uma área onde colocaram uma mesa de ping-pong. Joguei muito nesse dia. Segui curtindo a novidade de estar nesta cidade com suas superquadras moderníssimas e prédios novinhos em folha, pois não havia em Brasília, nenhuma construção de alvenaria que fosse velha. Até porque a cidade só haviam passado oito anos da fundação. Na Asa Norte, nesta época existiam várias construções de madeira, que lembravam uma cidade do velho oeste americano, aquela dos filmes de bang-bang. Uma delas era o famoso hotel Geni que ficava em frente a 306 norte e que foi destruido por um incêndio. Eu, junto com outros meninos, atravessamos a W3 para ver os trabalhos dos bombeiros tentando apagar as chamas que consumiam o hotel. Infelizmente não puderam fazer mais nada, e o hotel virou cinzas.

Alguns meses se passaram, quando um funcionário do exercito entregou a minha mãe, as chaves do apartamento 504 do bloco “D” que acabará de ser construido. Mudamos junto com a familia do sargento Onoli, amigo de papai, que foi nosso vizinho por tres anos consecutivo, assim como a familia de Sr. Bertulio e dona Bete. Foi um alívio, sair de um apartamentod de dois quartos para um de tres, porque um quarto a mais para uma família com as dimensões da nossa, fazia uma diferênça enorme. Lembro do dia da mudança, o cheiro de novo era presente em todos os lugares do bloco, nos corredores, nos elevadores silenciosos e dentro do apartamento. Este, além de maior, tinha um vista privilégiada para as 400, como são chamadas as quadras que ficam abaixo do eixo rodoviário, avenida que atravessa Brasília de norte a sul. As quadra 100 e 200, ainda não estavam construidas. No local só havia mato. Era ali que a brincadeira da “guerra das buchas” acontecia. Pegávamos as buchas que cresciam naquele matagal, e divididos em dois grupos, começavamos a guerrear atirando buchas e mamonas uns nos outros. Neste lugar também íamos catar cajú, que era nativo da região, e havia em grande quantidade no cerrado, apesar de ser bem menor e mais acido, era muito gostoso comer aquelas frutas fresquinhas ali mesmo. Um dia, eu resolví fazer ali, uma casa em cima de uma árvore, que nem nos filmes de tarzan. Eu achei um martelo jogado nas areias de uma obra, e os pregos e madeiras eu pegava nas sobras das construções, que eram muitas por ali. Com este material, escolhi o local, e fui pregando as tábuas numa árvore torta e esquisita que tinha naquele cerrado. Numa manhã de sábado, quando cheguei lá para brincar, ví que a minha construção arborivera, fora invadida por alguns meninos. Ameaçei quebrar a cabeça deles com o martelo, caso eles não desocupassem o imóvel. Eles sairam correndo, mas no domingo a casa não existia mais. Foi o primeiro caso de invasão de imóvel ocorrido na cidade. A outra diversão era o futebol no campo improvisado no asfalto. Eu jogava no gol, e por causa das constantes quedas, meus joelhos e cotovelos estavam sempre ralados. Nesta quadra também eram realizados os jogos de “batch”, uma especie de basebol brasileiro, onde dois jogadores, um de cada lado, atiram a pequena bola, com o objetivo de derrubar a base, um tripé de madeira, ou de lata que ficava dentro de um circulo, protegida pela dupla defensiva que com seus tacos tentavam evitar que a bola arremessada, acertasse o seu alvo. A cada rebatida começava a contagem de pontos, que só parava quando a dupla atiradora pegava a bola. Quando a bolinha atingia o alvo, a dupla atiradora trocava de lugar com a defensora. E vai por ai...

Foto da quadrilha.

A diversão noturna era pouquissima. Ficavámos debaixo dos blocos conversando ou brincando no parquinho do bloco K. As amizades com os outros meninos da quadra eram boas, e havia muitos meninos por lá, já com as meninas, lembro só de tres, a Rosangela, a Andreia, e a Evanir. A Evani era magrinha, e não chamava muito a atenção, então, eu e ela andavamos de mãos dadas pela quadra. Oficialmente ela foi a minha primeira namorada, a primeira mulher que beijei na boca, isso aos treze anos de idade. No mês de junho, uma animada familia carioca, organizou a primeira festa junina da 306. Dadá ensaiava a quadrilha, Jorge fazia os balões, eu ajudava na montagem das buchas que fariam o balão subir, o sargento Onoly pregava as bandeirinhas com a ajuda da sua mulher. No dia da festa acenderam a grande fogueira, que ficou queimando até a madrugada. Algumas barraquinhas que foram armadas ali, vendiam doces, refrigerantes e bombinhas. Chegou a hora da grande quadrilha, dançamos conforme os ensaios, e no final, os noivos se casaram sob as bençãos do meu pai, que foi o padre nesta ocasião. Ele estava muito engraçado, usando um óculos que só tinha uma lente, de vez em quando ele coçava o olho com o dedo passando pela armação sem a lente, arrancando risadas da platéia. Neste dia fiquei conhecendo a familia do Sr. Egon que acabara de chegar em Brasilia. Durante muito tempo fui a pescarias no lago acompanhado dele e de seus filhos. O lago paranoá começava a fazer parte dos meus momentos de lazer.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Vale das Andorinhas - O comêço


Em meados da década de 80, um cheque de *Cr$ 1.000.000,00, selou um dos melhores investimentos feito pelo meu pai, se olharmos pelo âmbito recreativo e de reunião familiar, além da qualidade de vida que eles desfrutaram no período em que lá viveram.

(* convertido este valor , hoje seria algo em torno de R$ 5.000,00.)

Situada na rua Araguaia, lotes 7 e 9, do Vale das Andorinhas, a história da nossa chacara começou a ser construída aos poucos. Dia a dia. Mês a mês. Ano a ano.

Meu pai logo que se aposentou recebeu o convite de um amigo para cuidar de uma chácara de sua propriedade, que ficava próximo a Brasília, numa região conhecida como Vale da Andorinhas. Conhecendo o lugar, meu pai viu ali uma oportunidade de realizar um desejo antigo, que era morar no campo, tendo atividades tranquilas, e que lhe ajudaria a passar o tempo, sem se preocupar com horários e compromissos sérios. Meu pai aceitou de imediato, e após alguns dias, ele e minha mãe concluiríam a mudança.

A casa que ficava na rua Araguaia, em meio a encosta de um morro de pequeno relevo, fornecia uma atraente vista de toda a extrensão do vale. Durante os anos que meus pais permaneceram nela, tornou-se ponto de encontro famíliar e de amigos, que se reunião por la nos finais de semana e feriados.

O terreno comprado, onde seria construído a casa, ficava de frente a chácara que meus pais estavam morando. Lalá, o cunhado da minha irmã, e proprietario do lote comprado pelo Kuinha, também possuia um sitio na beira de um corrego, com um grande curral, onde os gados pastavam soltos, também havia por la muitas galinhas tudo isso e mais um sobrado em construção, onde os quartos eram separados por uma divisória de cortina. Era bem maior que o terreno adquirido pelo Kuinha. Na época nos achavamos que seria um péssimo négocio, porque o valor proposto por Lalá era considerado alto e não fazia sentido comprar algo tão supérfluo, uma vez que ninguém achava que o Kuinha iria mesmo construir alguma casa por ali. O terreno era só mato e muito formigueiro, um verdadeiro ninho de cobras. Mesmo desaconselhado, meu pai insistiu e fechou o negócio.

Pouco dias se passaram, e Kuinha resolveu que iria fazer um quarto e um banheiro no lote. Em poucos dias, um caminhão carregado de tijolos, areia, brita e ferros, encostou pela primeira vez na porta do lote, para descarregar as tábuas, tijolos e telha. Como seria uma constução provisória, não haveria de se ter pressa em começar a construção. Afinal, era preciso desenhar o projeto, e conseguir um bom pedreiro para dar inicio as obras. Muitos livros de construção foram comprados. Uma coleção inteira de “Como Fazer”, “Construindo muros, “concretos e alicerce”, etc... A suite foi desenhada por meu pai, que, apesar da simplicidade da obra, demonstrou ser um bom desenhista de plantas baixas. O terreno foi demarcado com estacas e barbantes indicando o local onde seriam levantadas as paredes. Meu pai mostrava a cada filho aquela planta com o maior orgulho. Nos finais de semana, com certa frequencia, juntavamos a familia, aproveitando o sol, na beira da pequena piscina, sempre tomando umas cervejas geladas e regadas a um bom papo familiar. No almoço, a deliciosa comida de dona Jenié, era um convite à mesa sempre farta e com deliciosas saladas, acompanhada sempre de um saboroso suco natural. Redes eram espalhadas na varanda e, após o almoço, cada um escolhia a sua para se deitar e fazer a cesta. Enquanto isso, pelas mãos do mestre João, as paredes subiam sem pressa, e a casa aos poucos ia ganhando forma.

Ato continuo, todas as sextas-feira, à tardinha, já era compromisso dar uma passada no mercado para comprar umas latinhas e o pão para depois pegar a BR 040. Um a um, as famílias chegavam buzinando e fazendo festa. Meu pai abria o portão com uma alegria imensa estampada nos seus olhos azuis, e os carros começavam a ocupar o gramado que virava um grande estacionamento. Abriam-se as latas, e dava-se inicio a alegria. Mesa cheia na janta, mas somente dois ferlizardos teriam a honra de ocupá-la junto com Kuinha e Jenié, na hora do jogo de buraco.

sábado, 22 de maio de 2010

Uma greve geral

O barulho era tanto, que quase não dava para ouvir o carro de som. O presidente do sindicato dos bancários, Augusto Carvalho, fazia um discurso inflamado para centenas de bancário que estavam presentes ali, na assembléia realizada em frente a sede do Banco do Brasil.

- E quem for a favor da greve, levante um braço. Gritou com a voz rouca.

Foi quase uma unanimidade. Greve geral, dos bancários de Brasília. Pezão que estava lá, previa que a greve iria durar mais de cinco dias. Quase acertou.
- E o que que agente vai fazer agora, Estevam?
- Tomar uma gelada em algum boteco por ai. Nem pensou muito para responder.
- Nos cunhados! Uma caixinha?
- No mínimo!

Marildo deu a idéia de irmos lá pra chácara. O Estevam não achava uma boa, pois meu pai estava lá em plena recuperação do derrame que sofrera dias antes.
- Chegar lá essa hora, sei não.
- Acho que o Kuinha vai é gostar. Ele gosta destes improvisos de última hora.
- Vai ser barra. A gente bebendo e ele vendo.

Meu pai era muito consciente, e eu sabia que não seria problemas ele ver a gente beber.
Então fomos ao Pão de Açucar no final da W3 para comprar os mantimentos. Uma caixa.
Primeira parada: Boi na brasa. Marildo comprou cinco latinhas.
Fizemos a curva para a direita em frente ao móvel sucupira, e seguimos pela estrada de chão até a chácara. O Bené já estava fechado.
- Não falei.
- A gente acordava o Bené, se fosse o caso.
- Se o Kuinha tivesse bem, ia chegar buzinando.

Henrique, papai e mamãe se espremiam na porta da entrada para ver quem estava chegando naquela hora. Já passava das dez.
A sinuca novinha ficava na sala. Presente do Gila.
- O assessor tá podendo. Brincou Bigas.
Nesta noite, enquanto eu, bigas e Marildo afinávamos o taco, papai e Estevam jogavam uma partida de gamão. Na cozinha mamãe preparou uma panela de mandiocas com carne, e todos respeitaram a ordem dada por ela.
- Quem for fumar, que fume lá fora.
Neste dia, só quem dormiu, foram papai e mamãe. Nós ficamos jogando até a cerração chegar, e cobrir de branco o verde daquele lugar.