O que mais me impressionou foi o estado da cerca por onde entravam e saiam os cães. Dei um jeito nela com alguns pedaços de arames que encontrei no chão. Depois, já dentro da casa pude observar a sujeira que se amontoava nos cantos das paredes esburacadas e mofadas. Uma das pilastras estava em péssimo estado de conservação, porém não representava perigo, porque apesar do desgaste, a madeira era de boa qualidade e a casa não corria o risco de desabar.
Foi meu amigo que me deu a notícia da compra da casa nova. O dinheiro foi o avô quem deu. Eu não sabia que ele juntava tanto dinheiro. Pensei que a casa fosse mais simples, porém, era a mais bonita da rua. Vi os antigos donos fazendo a mudança das tralhas. Sua neta estava entusiasmada assim como aquela senhora sua mãe que acenou para mim lá de dentro do quarto. Só não vi as crianças. Ou as vi e não dei muita atenção. Os quartos estavam molhados demais para alguém passar a noite ali. Cheguei mesmo a ser convidado e confesso que senti um nostalgico desejo de me acomodar ali ao lado daquela mulher e esperar pelas crianças. Mas estava angustiado demais, tinha o meu próprio lar e já estava sentido a falta dele. Na saída vi a mulher dentro do quarto, de onde ela não saia para nada, com os seus outros filhos que até então eu nem sabia que estavam lá. Ela sorriu e acenou para mim. Da calçada, dei a última olhada na cerca arrumada. Ficou a sensação de que as portas estariam sempre abertas para mim sempre que eu quisesse.
Fui para casa me lembrando do céu que vi na noite anterior. Limpo e repleto de estrelas brilhantes. A impressão que dava era de que elas mudavam constantemente de lugar uma com as outras. Pareciam riscos de giz num quadro-negro de escola. Na rua, os carros de som apresentavam os cantores de seresta, que orgulhosos não se cansavam jamais de cantar as lindas modinhas. O menino de cabelo dourado se apegou comigo de um jeito, que parecia ser meu filho. Talvez porque ele nunca teve um pai, ou até por que a sua mãe vivia muito ocupada com a própria sobrevivência. Esta casa sim, era muito pobre e ficava na última rua do bairro mais distante. Em compensação, na parte de trás do velho prédio, a mais linda das noites se apresentou para mim.
Parece que eu voava sobre as ondas como um surfista nos céus, e até tive a sensação de alguem que salta de um avião sem para-quedas. Por muito tempo observei gatos em cima dos telhados. Mas no pouso não senti nenhum impacto que me levasse a dor. Minha mãe e meus irmãos me aguardavam ansiosos, e eu entrei silenciosamente pela janela do meu quarto. As cobertas de lã ainda estavam quentes apesar do frio que fazia lá fora. E, de repente, amanheceu.
Fui para casa me lembrando do céu que vi na noite anterior. Limpo e repleto de estrelas brilhantes. A impressão que dava era de que elas mudavam constantemente de lugar uma com as outras. Pareciam riscos de giz num quadro-negro de escola. Na rua, os carros de som apresentavam os cantores de seresta, que orgulhosos não se cansavam jamais de cantar as lindas modinhas. O menino de cabelo dourado se apegou comigo de um jeito, que parecia ser meu filho. Talvez porque ele nunca teve um pai, ou até por que a sua mãe vivia muito ocupada com a própria sobrevivência. Esta casa sim, era muito pobre e ficava na última rua do bairro mais distante. Em compensação, na parte de trás do velho prédio, a mais linda das noites se apresentou para mim.
Parece que eu voava sobre as ondas como um surfista nos céus, e até tive a sensação de alguem que salta de um avião sem para-quedas. Por muito tempo observei gatos em cima dos telhados. Mas no pouso não senti nenhum impacto que me levasse a dor. Minha mãe e meus irmãos me aguardavam ansiosos, e eu entrei silenciosamente pela janela do meu quarto. As cobertas de lã ainda estavam quentes apesar do frio que fazia lá fora. E, de repente, amanheceu.