sexta-feira, 28 de maio de 2010

SQN 306 - 1968

Foto da SQN 312

No inicio do mês de dezembro de 1968, meu pai desembarcou com a sua tropa composta por mamãe e mais oito filhos, na rodoviária de Brasilia. Chegamos numa manhã muito bonita, e não tem como não se encantar com o céu limpo desta cidade. Nosso primeiro destino seria a SQN 312, onde passariámos o final da semana no apartamento de um amigo, até que meu pai recebesse as chaves do apartamento da SQN 306, onde iríamos morar em definitivo. Ao desembarcarmos, nos esprememos dentro de dois taxi. Cada um seguiu com uma metade da família dentro. Aconteceu um contratempo, porque um dos taxi foi parar na SQS 312, do outro lado da cidade, enquanto que o outro seguiu para o seu destino normal, a Asa Norte. Não dá para saber se o motorista entendeu mal, ou se agiu de má fé, lembro que meu pai não gostou, e o motorista não cobrou a diferença pelo erro, ficando o valor da corrida com o prêço idêntico ao do taxi que fez o trajeto correto. Como eu, estava no carro que errou, conheci um pouco mais de Brasília logo no primeiro dia. Depois do almôço, desci para passear pelos gramados da quadra, tudo era novidade. Embaixo do prédio, entre os pilotis, havia uma área onde colocaram uma mesa de ping-pong. Joguei muito nesse dia. Segui curtindo a novidade de estar nesta cidade com suas superquadras moderníssimas e prédios novinhos em folha, pois não havia em Brasília, nenhuma construção de alvenaria que fosse velha. Até porque a cidade só haviam passado oito anos da fundação. Na Asa Norte, nesta época existiam várias construções de madeira, que lembravam uma cidade do velho oeste americano, aquela dos filmes de bang-bang. Uma delas era o famoso hotel Geni que ficava em frente a 306 norte e que foi destruido por um incêndio. Eu, junto com outros meninos, atravessamos a W3 para ver os trabalhos dos bombeiros tentando apagar as chamas que consumiam o hotel. Infelizmente não puderam fazer mais nada, e o hotel virou cinzas.

Alguns meses se passaram, quando um funcionário do exercito entregou a minha mãe, as chaves do apartamento 504 do bloco “D” que acabará de ser construido. Mudamos junto com a familia do sargento Onoli, amigo de papai, que foi nosso vizinho por tres anos consecutivo, assim como a familia de Sr. Bertulio e dona Bete. Foi um alívio, sair de um apartamentod de dois quartos para um de tres, porque um quarto a mais para uma família com as dimensões da nossa, fazia uma diferênça enorme. Lembro do dia da mudança, o cheiro de novo era presente em todos os lugares do bloco, nos corredores, nos elevadores silenciosos e dentro do apartamento. Este, além de maior, tinha um vista privilégiada para as 400, como são chamadas as quadras que ficam abaixo do eixo rodoviário, avenida que atravessa Brasília de norte a sul. As quadra 100 e 200, ainda não estavam construidas. No local só havia mato. Era ali que a brincadeira da “guerra das buchas” acontecia. Pegávamos as buchas que cresciam naquele matagal, e divididos em dois grupos, começavamos a guerrear atirando buchas e mamonas uns nos outros. Neste lugar também íamos catar cajú, que era nativo da região, e havia em grande quantidade no cerrado, apesar de ser bem menor e mais acido, era muito gostoso comer aquelas frutas fresquinhas ali mesmo. Um dia, eu resolví fazer ali, uma casa em cima de uma árvore, que nem nos filmes de tarzan. Eu achei um martelo jogado nas areias de uma obra, e os pregos e madeiras eu pegava nas sobras das construções, que eram muitas por ali. Com este material, escolhi o local, e fui pregando as tábuas numa árvore torta e esquisita que tinha naquele cerrado. Numa manhã de sábado, quando cheguei lá para brincar, ví que a minha construção arborivera, fora invadida por alguns meninos. Ameaçei quebrar a cabeça deles com o martelo, caso eles não desocupassem o imóvel. Eles sairam correndo, mas no domingo a casa não existia mais. Foi o primeiro caso de invasão de imóvel ocorrido na cidade. A outra diversão era o futebol no campo improvisado no asfalto. Eu jogava no gol, e por causa das constantes quedas, meus joelhos e cotovelos estavam sempre ralados. Nesta quadra também eram realizados os jogos de “batch”, uma especie de basebol brasileiro, onde dois jogadores, um de cada lado, atiram a pequena bola, com o objetivo de derrubar a base, um tripé de madeira, ou de lata que ficava dentro de um circulo, protegida pela dupla defensiva que com seus tacos tentavam evitar que a bola arremessada, acertasse o seu alvo. A cada rebatida começava a contagem de pontos, que só parava quando a dupla atiradora pegava a bola. Quando a bolinha atingia o alvo, a dupla atiradora trocava de lugar com a defensora. E vai por ai...

Foto da quadrilha.

A diversão noturna era pouquissima. Ficavámos debaixo dos blocos conversando ou brincando no parquinho do bloco K. As amizades com os outros meninos da quadra eram boas, e havia muitos meninos por lá, já com as meninas, lembro só de tres, a Rosangela, a Andreia, e a Evanir. A Evani era magrinha, e não chamava muito a atenção, então, eu e ela andavamos de mãos dadas pela quadra. Oficialmente ela foi a minha primeira namorada, a primeira mulher que beijei na boca, isso aos treze anos de idade. No mês de junho, uma animada familia carioca, organizou a primeira festa junina da 306. Dadá ensaiava a quadrilha, Jorge fazia os balões, eu ajudava na montagem das buchas que fariam o balão subir, o sargento Onoly pregava as bandeirinhas com a ajuda da sua mulher. No dia da festa acenderam a grande fogueira, que ficou queimando até a madrugada. Algumas barraquinhas que foram armadas ali, vendiam doces, refrigerantes e bombinhas. Chegou a hora da grande quadrilha, dançamos conforme os ensaios, e no final, os noivos se casaram sob as bençãos do meu pai, que foi o padre nesta ocasião. Ele estava muito engraçado, usando um óculos que só tinha uma lente, de vez em quando ele coçava o olho com o dedo passando pela armação sem a lente, arrancando risadas da platéia. Neste dia fiquei conhecendo a familia do Sr. Egon que acabara de chegar em Brasilia. Durante muito tempo fui a pescarias no lago acompanhado dele e de seus filhos. O lago paranoá começava a fazer parte dos meus momentos de lazer.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Vale das Andorinhas - O comêço


Em meados da década de 80, um cheque de *Cr$ 1.000.000,00, selou um dos melhores investimentos feito pelo meu pai, se olharmos pelo âmbito recreativo e de reunião familiar, além da qualidade de vida que eles desfrutaram no período em que lá viveram.

(* convertido este valor , hoje seria algo em torno de R$ 5.000,00.)

Situada na rua Araguaia, lotes 7 e 9, do Vale das Andorinhas, a história da nossa chacara começou a ser construída aos poucos. Dia a dia. Mês a mês. Ano a ano.

Meu pai logo que se aposentou recebeu o convite de um amigo para cuidar de uma chácara de sua propriedade, que ficava próximo a Brasília, numa região conhecida como Vale da Andorinhas. Conhecendo o lugar, meu pai viu ali uma oportunidade de realizar um desejo antigo, que era morar no campo, tendo atividades tranquilas, e que lhe ajudaria a passar o tempo, sem se preocupar com horários e compromissos sérios. Meu pai aceitou de imediato, e após alguns dias, ele e minha mãe concluiríam a mudança.

A casa que ficava na rua Araguaia, em meio a encosta de um morro de pequeno relevo, fornecia uma atraente vista de toda a extrensão do vale. Durante os anos que meus pais permaneceram nela, tornou-se ponto de encontro famíliar e de amigos, que se reunião por la nos finais de semana e feriados.

O terreno comprado, onde seria construído a casa, ficava de frente a chácara que meus pais estavam morando. Lalá, o cunhado da minha irmã, e proprietario do lote comprado pelo Kuinha, também possuia um sitio na beira de um corrego, com um grande curral, onde os gados pastavam soltos, também havia por la muitas galinhas tudo isso e mais um sobrado em construção, onde os quartos eram separados por uma divisória de cortina. Era bem maior que o terreno adquirido pelo Kuinha. Na época nos achavamos que seria um péssimo négocio, porque o valor proposto por Lalá era considerado alto e não fazia sentido comprar algo tão supérfluo, uma vez que ninguém achava que o Kuinha iria mesmo construir alguma casa por ali. O terreno era só mato e muito formigueiro, um verdadeiro ninho de cobras. Mesmo desaconselhado, meu pai insistiu e fechou o negócio.

Pouco dias se passaram, e Kuinha resolveu que iria fazer um quarto e um banheiro no lote. Em poucos dias, um caminhão carregado de tijolos, areia, brita e ferros, encostou pela primeira vez na porta do lote, para descarregar as tábuas, tijolos e telha. Como seria uma constução provisória, não haveria de se ter pressa em começar a construção. Afinal, era preciso desenhar o projeto, e conseguir um bom pedreiro para dar inicio as obras. Muitos livros de construção foram comprados. Uma coleção inteira de “Como Fazer”, “Construindo muros, “concretos e alicerce”, etc... A suite foi desenhada por meu pai, que, apesar da simplicidade da obra, demonstrou ser um bom desenhista de plantas baixas. O terreno foi demarcado com estacas e barbantes indicando o local onde seriam levantadas as paredes. Meu pai mostrava a cada filho aquela planta com o maior orgulho. Nos finais de semana, com certa frequencia, juntavamos a familia, aproveitando o sol, na beira da pequena piscina, sempre tomando umas cervejas geladas e regadas a um bom papo familiar. No almoço, a deliciosa comida de dona Jenié, era um convite à mesa sempre farta e com deliciosas saladas, acompanhada sempre de um saboroso suco natural. Redes eram espalhadas na varanda e, após o almoço, cada um escolhia a sua para se deitar e fazer a cesta. Enquanto isso, pelas mãos do mestre João, as paredes subiam sem pressa, e a casa aos poucos ia ganhando forma.

Ato continuo, todas as sextas-feira, à tardinha, já era compromisso dar uma passada no mercado para comprar umas latinhas e o pão para depois pegar a BR 040. Um a um, as famílias chegavam buzinando e fazendo festa. Meu pai abria o portão com uma alegria imensa estampada nos seus olhos azuis, e os carros começavam a ocupar o gramado que virava um grande estacionamento. Abriam-se as latas, e dava-se inicio a alegria. Mesa cheia na janta, mas somente dois ferlizardos teriam a honra de ocupá-la junto com Kuinha e Jenié, na hora do jogo de buraco.

sábado, 22 de maio de 2010

Uma greve geral

O barulho era tanto, que quase não dava para ouvir o carro de som. O presidente do sindicato dos bancários, Augusto Carvalho, fazia um discurso inflamado para centenas de bancário que estavam presentes ali, na assembléia realizada em frente a sede do Banco do Brasil.

- E quem for a favor da greve, levante um braço. Gritou com a voz rouca.

Foi quase uma unanimidade. Greve geral, dos bancários de Brasília. Pezão que estava lá, previa que a greve iria durar mais de cinco dias. Quase acertou.
- E o que que agente vai fazer agora, Estevam?
- Tomar uma gelada em algum boteco por ai. Nem pensou muito para responder.
- Nos cunhados! Uma caixinha?
- No mínimo!

Marildo deu a idéia de irmos lá pra chácara. O Estevam não achava uma boa, pois meu pai estava lá em plena recuperação do derrame que sofrera dias antes.
- Chegar lá essa hora, sei não.
- Acho que o Kuinha vai é gostar. Ele gosta destes improvisos de última hora.
- Vai ser barra. A gente bebendo e ele vendo.

Meu pai era muito consciente, e eu sabia que não seria problemas ele ver a gente beber.
Então fomos ao Pão de Açucar no final da W3 para comprar os mantimentos. Uma caixa.
Primeira parada: Boi na brasa. Marildo comprou cinco latinhas.
Fizemos a curva para a direita em frente ao móvel sucupira, e seguimos pela estrada de chão até a chácara. O Bené já estava fechado.
- Não falei.
- A gente acordava o Bené, se fosse o caso.
- Se o Kuinha tivesse bem, ia chegar buzinando.

Henrique, papai e mamãe se espremiam na porta da entrada para ver quem estava chegando naquela hora. Já passava das dez.
A sinuca novinha ficava na sala. Presente do Gila.
- O assessor tá podendo. Brincou Bigas.
Nesta noite, enquanto eu, bigas e Marildo afinávamos o taco, papai e Estevam jogavam uma partida de gamão. Na cozinha mamãe preparou uma panela de mandiocas com carne, e todos respeitaram a ordem dada por ela.
- Quem for fumar, que fume lá fora.
Neste dia, só quem dormiu, foram papai e mamãe. Nós ficamos jogando até a cerração chegar, e cobrir de branco o verde daquele lugar.


A pasta

Êpa!, êpa!, êpa!
Tá falando comigo?
Claro! Dá pra afastar um pouco ai?
Ô , o ônibus tá cheio ai, tá vendo!
Essa coisa dura ai na minha bunda.
Ôpa! desculpa ai, é minha pasta.
Menos mal. Mais afasta ai tá.
Amigo, eu mal posso me segurar e ainda tenho a porra da pasta.
Interessa não, afasta ai.
Eu seguro pro senhor moço.
Obrigado dona. Tem cada um..a
Êi, você é folgado hein. Mete a porra da pasta na minha bunda e fica ai..E se fosse na...
Ah! já sei. Se fosse na sua você ia gostar... né. Ia até dá uma reboladinha!!! Gracinha!!!
Vamos parar ai, vocês dois. Segura a onda ai.
Segura você, seu merda. Fica aqui no meu lugar. Ta sentadinho ai de boa, e fica ai...
Ele não tem culpa não, ta lotado.
A senhora ta sentadinha ai, ta tudo bem, né. Troca comigo. Deixa eu sentar ai, e a senhora fica aqui com a pasta na bunda.
Me respeita, seu vagabundo, sê tava era gostando... Seu "inrustido" agora ta tirando onda...
Gente! Vamos parar ou essa merda vai pra delegacia! Ô trocador, dá um jeito ai ó.
Fala com o motorista, ele é o chefe. Me tira dessa cara, não me meto com gay.
Tá bom pessoal, desculpa ai, eu tô nervoso, o dia foi péssimo, o patrão tava daquele jeito... ai vem essa pasta...
Tudo bem!
Beleza.. Isso aí, gente!
Brigar pra que!
(...e a viagem segue silenciosa.)
Êi! tira a pasta dai! Porra de novo não!
Agora não é a pasta não, moço. A pasta ta com a mulher.
PUTZ!!!!!!!

quarta-feira, 19 de maio de 2010

SMU - 1970


Em 1970, no início do mês de fevereiro, meu pai recebeu as chaves da nossa futura moradia em Brasília. Por causa da nova função que exerceria no quartel, ele foi obrigado a desocupar o imóvel da SQN 306 onde estávamos morando, e ir para a casa que fomos ver la no Setor Militar Urbano. Descemos do ônibus que nos trouxe da rodoviária, em frente a última rua que havia naquela época neste setor. Hoje existem mais ou menos umas vinte ruas a mais. Caminhamos reto até uma praça, e chegamos a terceira casa, de número 115 seria o nosso futuro lar. As residencias do setor são todas iguais, sendo que as utilizada pelos oficiais eram melhores e ficavam na parte mais próxima ao eixo monumental, e os sub-oficiais e sargentos, ficavam na parte de cima.
Abrimos o portão e entramos pela lateral da casa, onde no final, ficava a garagem. Havia outro portão que dava acesso ao quintal, por onde entramos. A primeira vista para o quintal, era de um mato enorme que precisaria ser cortado antes da nossa mudança. Parece que quem desocupou a casa, não se preocupou nem um pouco com a limpeza e manutenção. Talvez até porque fosse responsabilidade do exercito fazer esta manutenção. Minha mãe viveu um momento de desilusão nesta hora. Ela foi entrando e reparando nos cômodos. Uma sala boa, se comparada ao apartamento da 306, os quartos eram maiores e os banheiros também. A cozinha era quase do mesmo tamanho mais tinha a vantagem de não ter área de serviço, pois esta ficava na varanda do quintal.
Meu pai tomou as providência, e quatro dias depois foi feita a mudança. Quando chegamos encontramos o quintal limpo, com um abacateiro enorme, uma raiz de maracujá que cobria de ramas o abacateiro, e ainda tinha um pé de pequi, que ficava defronte a janela do último quarto. Tudo era gramado. Era o nosso campo de futebol. Neste sábado foi só trabalheira. Arruma daqui, arruma dali, e a casa, no final do dia, já tinha a "nossa cara". Na semana seguinte, quem teve o maior trabalho foi mamãe, que teve que juntar a papelada para a transferência colegial da asa norte, e fazer as matrículas na escola do setor, e no ginásio do cruzeiro.Dá para imaginar o vai-e-vem dela nestes dias. Mais as aulas só começariam em março, então tínhamos muito tempo de folga pela frente para curtir.
Uma semana depois da mudança, recebemos a visita de meus tios que moravam em Unaí, e vieram conhecer a nova casa. Eles trouxeram uma quantidade enorme de espigas de milho, que ganharam de um fazendeiro da cidade de Cabeceiras, la de Minas Gerais. O banco traseiro do fusquinha vermelho parecia mais um celeiro, de tanto milho que tinha por lá. Adivinha qual foi a janta neste dia!
Meu tio gostava muito de pescar no lago Paranoá, e num desses dias de semana, encheu o fusquinha, e lá fomos nós, pescar. Chegamos ao Setor de Mansões do Lago Sul, e numa das ruas que davam acesso ao lago, encontramos o lugar ideal. Era uma destas mansões que tinha deck e cais, e como os portões estavam abertos e sem nenhum movimento interno, entramos na mansão do Fábio, era assim que estava escrito na placa da entrada. Estavamos todos já bem acomodado no deck, pescando, quando um senhor alto e magro, que era o caseiro, veio em nossa direção, e perguntou quem éramos, e quem tinha dado a permissão para estarmos ali. Meu tio nem pensou muito para responder que fora o próprio Fábio, seu amigo, que tinha autorizado. Meu tio Nilson nunca ouvira falar deste cidadão. O caseiro se afastou sem dizer mais nada, e nós continuamos puxando os lambaris. Como tinha dado certo, outro dia voltamos a pescar no mesmo lugar. Só que desta vez o Sr. Fábio estava em casa, e gentilmente, nos convidou a sair da sua propriedade, fato continuo, entramos no fusquinha e demos no pé. Com o fim desta amizade, tivemos que nos contentar com um barranco que havia no final da L2 norte proximo ao clube dos funcionário, que, para quem não sabe, já foi clube do BNCC.
Aos quatorze anos de idade, eu desejava muito ter uma bicicleta. Em especial a CALOI BARRA CIRCULAR REI PÉLE. Era a bicicleta da vez. Último modelo lançado pela calói no Brasil. Eu chegava a ter sonhos onde eu pedalava sem parar pelas ruas do bairro. Pareciam tão real estes sonhos, que as vezes quando despertava, tinha a impressão que em algum lugar da casa, haveria uma bicicleta encostada, esperando por mim. Comentei certa vez com a minha tia, sobre este sonho, e no dia 20 de abril, quando eu completei quinze anos de idade, ganhei a minha CALOI BARRA CIRCULAR REI PELE, novinha na côr verde, de presente da minha tia. Foram muitas pedaladas pelos setor, cruzeiro e as vezes até mais longe.
Os dias passavam sem muita pressa. Quase nada havia para se fazer nos dias úteis, ainda não havia o clube Pandiá, então a gente inventava. As brincadeiras eram futebol no campo improvisado da pracinha, ou nas quadras de algum quartel, e a noite tradicionalmente, ficávamos conversando besteira sentados em algum gramado dali. Nos finais de semana sempre tinha uma festinha de garagem, moda naquela época. Era divertido. Tirávamos as garotas para dançar, e como tinha muito mais homem que mulher, elas escolhiam quem elas queriam. Os feios literalmente, dançavam.As preferidas eram a prima do Dimas e a irmã do Ramilson, a gostosona da Iracema.
Junho chegou trazendo a copa do mundo. Por todos os lugares só se ouvia falar de futebol. Bandeiras eram hasteadas, calçadas eram pintadas, chuva de papel picado nosetor comercial, fogos. Eu assisti aos jogos na casa do Costa Ferreira. La estavam me acompanhando o Jorge Cascata, Charuto, que mora em Valênça perto da minha mãe, o Biloca, Fernando da 209 com suas irmãs e a Ligia e Teca filha do Costa, entre outros que não lembro o nome. O Brasil conquistou o título sem perder nenhuma partida. Na final contra a Itália foram 4 gols contra apena um. Éramos os tri-campeões do mundo. Fogos, e fogos, euforia em todo os cantos do país. Depois do jogo, Pelés, Jairzinhos, Tostões, Rivelinos, Carlos Albertos, e Felixs, jogaram no campinho da pracinha. Cada um com a sua fantasia.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Rua Padre Frederico, 12 Juiz de Fora



Nossa casa no bairro de Santa Catarina, ficava bem no acentuado da curva da rua Padre Frederico, em frente ao cemitério municipal. Próximo havia um clube, cujo acesso servia de atalho para a "rua de baixo", como chamávamos a rua dos Andrádas. Nesta rua ficavam a igreja da Glória, e a padaria onde comprávamos pão e o leite todos os dias. Era também o caminho para o Largo de São Roque, local onde eu pegava o bonde para o centro da cidade e para os bairros São Matheus, onde eu cheguei a estudar um tempo no colégio São José, e Alto dos Passos, onde moravam uns amigos dos meus pais.
Do meu quarto dava para ver da janela, os túmulos, que brilhavam nas noites de lua cheia, proporcionando um cenário digamos, um tanto macabro. Um pequeno muro cercava este cemitério. Meu pai dizia em tom de brincadeira, que não entendia para que aquele muro, se quem estava la dentro não podia sair, e quem estava fora não queria entrar. Aproveitando a claridade da lua, íamos brincar lá dentro. Confesso que hoje eu não sei se faria isso, mas, meninos não tem medo de nada quando estão em "bando".
As brincadeiras preferidas eram "pega-ladrão" e "policia-e-bandido", onde a metade era "bandido" e a outra "policia". As brincadeiras geralmente eram às noites, e aconteciam na pracinha ou dentro deste cemitério. Ninguém tinha medo. Até porque o grupo estava sempre unido. Outra brincadeira muito apreciada era empinar pipas e papagaios. Quando uma pipa arrebentava a linha, e caia dentro do cemitério, quem disse que o dono, sozinho, tinha coragem de ir lá dentro para apanhá-la.
Num desses dias de domingo, o meu pai aprontou. Pegou uma abóbora, e com um canivete passou a escupi-la de modo que parecesse uma caveira. Colocou uma boca com recortes para parecer dentes, fez as cavidades dos olhos e um buraco na parte inferior, onde colocou uma vela acesa. Depois ele a pendurou no muro do cemitério, bem na hora da saída da missa das sete, quando as beatas retornavam para suas casas. Nem precisa dizer o susto que tiveram ao ver aquela caveira ali, brilhando em cima do muro.
Na pracinha, as brincadeira eram constantes e variavam conforme a vontade da galera. Pela manhã, o preferido era o jogo de bolinhas de gude. Eu era um craque neste jogo, e colecionava uma lata de leite ninho cheia delas. A outra era empinar os "papagaios", uma espécie de pipa sem aquele rabo, porque nos papagaios eram usadas as "rabiolas" que ficavam nas laterais. Minha mãe inventou uma "senha" para que nós não esquecêssemos o horário do almoço. A senha era a carroça do leiteiro. Ela saia para pegar o leite, e dava uma olhadinha para a praça. Pronto. Quem não fosse imediatamente para casa naquela hora, teria o "couro esquentado" pelas alpargatas dela. A televisão era algo que nós não tínhamos, então a pracinha foi muito importante para as nossa horas de lazer.
Aproveitando a ladeira da rua, que era calçada com paralelepípedos, inventamos uma brincadeira muito perigosa, que por pouco não acabou em tragédia. Espalhávamos banha de porco numa madeira, fazendo com que ela deslizasse rapidamente, descendo a rua numa velocidade razoável, por causa do declive. Como era uma curva acentuada, não dava para ver se vinha algum carro subindo, e quase sempre, jogávamos o nosso "carrinho" para o meio-fio, escapando assim de sermos atropelados. Eu mesmo fui parar debaixo de um caminhão que descarregava refrigerantes para o clube. Certa vez um menino cujo apelido era Neneco, bateu com tanta violência no batente de uma calçada, que meteu a boca no chão. Durante dias se alimentou só de líquidos.
Nesta rua moravam muitos dos nossos amigos, lembro do português que colecionava gibis. Ele tinha revistas antigas do Mikey, Fantasma, Zorro e Mandrake, e sempre me emprestava alguma para eu ler. Tinha o grande amigo flamenguista filho do seu Zé, o zequinha. Era na casa dele que eu assistia ao seriado Perdidos no espaço, produzido entre 1965 e 1968, e contava a história da família Robinson no espaço, a bordo da nave Júpiter 2, com direito a Dr. Zachari Shimit, Will e seu robô. A velha lata de sardinhas enferrujada que só sabia balançar os braços e repetir "perigo!, perigo!, perigo!...
Bons tempos foram aqueles!

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Juiz de Fora - Mariano Procópio


Primeiros meses.

O carro de praça, como era chamado os táxis naquele tempo, saiu da rua Halfeld carregado de malas e passageiros. Atravessamos o largo de São Roque, cruzamos os trilhos do bonde, subimos a rua da Gloria,( linda vista da Igreja da Gloria), passamos em frente ao convento de Santa Catarina. No final da rua ficava a estação de trem bem de frente ao Museu Mariano Procópio. O táxi parou pouco depois, na rua Dr. Luiz Andrés.
Meio sem jeito, fomos entrando na casa do Sr. Jadir.
Hoje eu fico imaginando a surpresa deste senhor na hora que nos viu sair do táxi. O que ele deve ter pensado? Mais não importa. Ele nos recebeu de braços abertos em sua casa. Ficamos um tempo por lá, não sei quanto, mais foi um bom período. Neste ano, passamos o natal com esta família, e ganhamos até presentes. Um dia meu pai chegou com as chaves de uma casa que ele havia alugado nesta mesma rua. A casa era apertada. Uma escada dava acesso a um pequeno corredor que levava a porta da entrada. Era um sobrado, que o dono dividiu em pequenos apartamentos e alugou. O corredor dava vista para um terreno baldio, onde brincávamos e jogávamos bola. Do lado havia outro terreno que era utilizado por uma madereira, como depósito de toras. Um local bastante frequentado por mim e pelos meus irmãos. Tinha um punhado de areia de construção, e uma das brincadeiras era pular das toras nesta areia. Passava um tempo enorme sujando os calções e levando bronca de mamãe. Quando começou o período escolar, fui matriculado no Grupo Escolar Antonio Carlos, que ficava no inicio da nossa rua. Lembro bem do dia em que eu sai para o meu primeiro dia de aula, vestindo o uniforme do colégio. Calça de tergal cinza-chumbo, uma camisa branca com uma fita azul marinho na manga e no bolso. O tempo foi passando e o inverno chegou. O frio era algo desconhecíamos. O inverno era a única estação do ano que não nos fora até então apresentada. Minha mãe tinha um primo que morava em Juiz de Fora, e que nos ajudou um bocado arranjou uns cobertores que ele conseguiu com seus amigos de trabalho. Meu pai teve que fazer uma despesa extra com a compra de casacos, pijamas e camisas, tudo de lã pra gente aguentar as baixa temperaturas. Não era muito raro os termômetros, na madrugada, chegarem a 4ºC.
Eu ficava horas sentado no meio-fio no final da rua admirando a fumaça que subia das águas do rio Paraibuna, por causa do frio. Esta fumaça também saia da nossa boca, fazendo parecer que a gente estava fumando.
Nos dias de domingo, minha mãe logo cedo, nos arrumava com as melhores roupas, e nos levava para assistir a missa na igreja da Gloria. Lembro da ficávamos encolhidos com o frio da manhã, enquanto iámos subindo a ladeira da rua dos Andradas já no bairro de Santa Catarina onde ficava a igreja. Com o passar do tempo este programa foi se tornando cada vez mais rotineiro, meus pais já conheciam todos os padres da paróquia. Esta amizade foi útil em todos os aspectos, e durou todo o tempo da nossa permanência nesta cidade. Foi através da amizade de um destes padres, que conseguimos mudar para uma casa maior.
Uma velha camionete arrumada pelos padres, e um caminhão emprestado pelo pessoal do trabalho do meu pai, fizeram a nossa mudança. Neste dia deixamos para traz o bairro Mariano Procópio, e nos mudamos para a rua Padre Frederico no bairro de Santa Catarina.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Viagem pelo atlântico - Sergipe, Abrolhos e ....



O arquipélago dos Abrolhos é formado por 5 ilhas: Siriba, Redonda, Sudeste, Santa Bárbara e a pequena Guarita. Somente as duas primeiras são abertas à visitação pública. As ilhas de Sueste e Guarita são consideradas intangíveis, e ninguém pisa nelas para que nenhuma alteração aconteça. A Ilha de Santa Bárbara pertence à Marinha do Brasil, e nela foi construído, em 1861, um belíssimo farol, vital para a orientação das embarcações que frequentam a região. Algumas simpáticas famílias vivem na Ilha de Santa Bárbara e garantem o funcionamento e a manutenção do Farol.

Entramos no quarto dia de viagem.

O Itaquatiá ingressou nas águas calmas da barra do rio sergipe, guiado pelo pratico. Do convés avistamos uma praia la longe. Com o sol forte do meio-dia, atracamos no porto de Aracajú. Foi um parada breve, onde suponho ter sido para abastecer o navio com os suprimentos necessário para prosseguirmos rumo ao nosso destino, o Rio de Janeiro. Estas são as poucas lembranças que eu ainda guardo deste porto. O que sei é que partimos para um trecho da viagem que me impressionou muito. Foram longos dias avistando apenas o mar. Um mar sem fim. Uma bola azul escuro e com espumas brancas que sumia no horizonte, por todos os lados que olhássemos. Com excessão do arquipélago dos Abrolhos, não avistaríamos nenhum sinal de terra firme durante os próximos cinco dias.
A passagem pelo arquipélago de Abrolhos, foi marcante. Foi aí que eu vi pela primeira vez, uma baleia. Todos estavam no convés apreciando os mergulhos e o filete de água que ela lançava quando o seu corpo pesado caia na água. Sua calda imensa descia e subia num verdadeiro balé.
Me lembro que exatamente ai, ficamos parados um tempo enorme esperando a maré subir, para seguirmos nossa viagem. Foram momentos divertidos. Nesta altura dos acontecimentos, já havíamos feito amizade com algumas crianças, e meu pai já era bem conhecido entre os tripulantes, e nossa estadia foi ficando mais divertida. As brincadeira com outras crianças, pelo convés era até certo ponto perigosa. Mais ainda bem que não aconteceu nada conosco.
Nos dias seguintes nada de terra, até chegarmos ao Rio de Janeiro. Não me lembro se paramos em algum porto da Bahia durante o nosso percurso. Talvez até aconteceu mas, não me lembro.
Durante este tempo seguimos brincando no convés e fazendo as refeições nos camarotes. Tomávamos banho nos chuveiros que ficavam perto da escada que dava acesso a parte mais baixa do navio. Não havia chuveiro no banheiro do camarote. Quem lembrou do local do banho foi o meu irmão que tem nome de navegador. Cabral.
Era de madrugada quando avistamos a praia de Copacabana. Finalmente o Rio de Janeiro. Aguardamos condições marítimas favoráveis para o desembarque. Lembro que foi demorado. Uma fila de pessoas no corredor do navio, levando uma porção de malas. Mães segurando seus filhos. Um vai-e-vem sem fim. Já no porto, em terra firme, dei uma última olhada para o Itaquatia.
A cena que mais marcou este dia, foi ver meu pai tentando negociar com os motoristas de táxi da praça XV, o prêço para levar todos nós a Juiz de Fora. Enquanto ele conversava com os taxistas, nós ficamos sentados na mureta no centro da praça, comendo sanduíches e tomando coca-cola. Era claro que em um só táxi, não caberia toda nossa família, e o preço cobrado deve ter sido altíssimo, porque naquele dia, no começo da tarde, embarcamos num ônibus, rumo a Juiz de Fora.
Não sai da minha mente as imagens das montanhas que avistávamos enquanto o ônibus seguia pela serra dos órgãos próximo a cidade de Petrópolis. Avistamos montanhas enormes com uma nuvem branca de cerração no topo. Para nós era uma grande novidade, e todos permaneciam com os rostos colados no vidro da janela, para não perder um lance sequer desta maravilhosa vista.
Lembro que chegamos bem tarde na cidade de Juiz de Fora. Fomos todos para um hotel próximo a rodoviária, cujo nome era "Hotel São Jorge Ltda. Rua Halfeld, 343 - Centro Juiz de Fora - MG - 36010-000. Tel: (32) 3215-6520l. (dados recentes apanhado no Google maps. Tem até o número do telefone caso alguém queira se hospedar por lá um dia). Um acontecimento que todos não esqueceremos, foi quando um dos meus irmãos, o que tem nome de navegador, o Cabral, fez suas necessidades no bidê. Mais também nós em momento algum de nossas vidas, sequer tinhamos ouvido falar desse "troço", portanto meu irmão estava perdoado, e a minha mãe, coitada ficou com a parte pior, que foi a de fazer a limpeza.
Pela manhã, pegamos um ônibus, e fomos todos para a casa de um senhor que nos ajudou muito. O nome dele era Jadir, e morava na rua Dr. Luiz Andrés no bairro Mariano Procópio. Nesta mesma rua, meu pai alugou uma casa bem modesta, que ficava do lado de um terreno cheio de imensas toras de árvores cortadas. Perdi as contas de quantas vezes ia brincar em cima destas madeiras. Nessa rua, e neste cenário, começaríamos uma nova fase em nossas vidas.
Depois eu conto.