sexta-feira, 28 de maio de 2010

SQN 306 - 1968

Foto da SQN 312

No inicio do mês de dezembro de 1968, meu pai desembarcou com a sua tropa composta por mamãe e mais oito filhos, na rodoviária de Brasilia. Chegamos numa manhã muito bonita, e não tem como não se encantar com o céu limpo desta cidade. Nosso primeiro destino seria a SQN 312, onde passariámos o final da semana no apartamento de um amigo, até que meu pai recebesse as chaves do apartamento da SQN 306, onde iríamos morar em definitivo. Ao desembarcarmos, nos esprememos dentro de dois taxi. Cada um seguiu com uma metade da família dentro. Aconteceu um contratempo, porque um dos taxi foi parar na SQS 312, do outro lado da cidade, enquanto que o outro seguiu para o seu destino normal, a Asa Norte. Não dá para saber se o motorista entendeu mal, ou se agiu de má fé, lembro que meu pai não gostou, e o motorista não cobrou a diferença pelo erro, ficando o valor da corrida com o prêço idêntico ao do taxi que fez o trajeto correto. Como eu, estava no carro que errou, conheci um pouco mais de Brasília logo no primeiro dia. Depois do almôço, desci para passear pelos gramados da quadra, tudo era novidade. Embaixo do prédio, entre os pilotis, havia uma área onde colocaram uma mesa de ping-pong. Joguei muito nesse dia. Segui curtindo a novidade de estar nesta cidade com suas superquadras moderníssimas e prédios novinhos em folha, pois não havia em Brasília, nenhuma construção de alvenaria que fosse velha. Até porque a cidade só haviam passado oito anos da fundação. Na Asa Norte, nesta época existiam várias construções de madeira, que lembravam uma cidade do velho oeste americano, aquela dos filmes de bang-bang. Uma delas era o famoso hotel Geni que ficava em frente a 306 norte e que foi destruido por um incêndio. Eu, junto com outros meninos, atravessamos a W3 para ver os trabalhos dos bombeiros tentando apagar as chamas que consumiam o hotel. Infelizmente não puderam fazer mais nada, e o hotel virou cinzas.

Alguns meses se passaram, quando um funcionário do exercito entregou a minha mãe, as chaves do apartamento 504 do bloco “D” que acabará de ser construido. Mudamos junto com a familia do sargento Onoli, amigo de papai, que foi nosso vizinho por tres anos consecutivo, assim como a familia de Sr. Bertulio e dona Bete. Foi um alívio, sair de um apartamentod de dois quartos para um de tres, porque um quarto a mais para uma família com as dimensões da nossa, fazia uma diferênça enorme. Lembro do dia da mudança, o cheiro de novo era presente em todos os lugares do bloco, nos corredores, nos elevadores silenciosos e dentro do apartamento. Este, além de maior, tinha um vista privilégiada para as 400, como são chamadas as quadras que ficam abaixo do eixo rodoviário, avenida que atravessa Brasília de norte a sul. As quadra 100 e 200, ainda não estavam construidas. No local só havia mato. Era ali que a brincadeira da “guerra das buchas” acontecia. Pegávamos as buchas que cresciam naquele matagal, e divididos em dois grupos, começavamos a guerrear atirando buchas e mamonas uns nos outros. Neste lugar também íamos catar cajú, que era nativo da região, e havia em grande quantidade no cerrado, apesar de ser bem menor e mais acido, era muito gostoso comer aquelas frutas fresquinhas ali mesmo. Um dia, eu resolví fazer ali, uma casa em cima de uma árvore, que nem nos filmes de tarzan. Eu achei um martelo jogado nas areias de uma obra, e os pregos e madeiras eu pegava nas sobras das construções, que eram muitas por ali. Com este material, escolhi o local, e fui pregando as tábuas numa árvore torta e esquisita que tinha naquele cerrado. Numa manhã de sábado, quando cheguei lá para brincar, ví que a minha construção arborivera, fora invadida por alguns meninos. Ameaçei quebrar a cabeça deles com o martelo, caso eles não desocupassem o imóvel. Eles sairam correndo, mas no domingo a casa não existia mais. Foi o primeiro caso de invasão de imóvel ocorrido na cidade. A outra diversão era o futebol no campo improvisado no asfalto. Eu jogava no gol, e por causa das constantes quedas, meus joelhos e cotovelos estavam sempre ralados. Nesta quadra também eram realizados os jogos de “batch”, uma especie de basebol brasileiro, onde dois jogadores, um de cada lado, atiram a pequena bola, com o objetivo de derrubar a base, um tripé de madeira, ou de lata que ficava dentro de um circulo, protegida pela dupla defensiva que com seus tacos tentavam evitar que a bola arremessada, acertasse o seu alvo. A cada rebatida começava a contagem de pontos, que só parava quando a dupla atiradora pegava a bola. Quando a bolinha atingia o alvo, a dupla atiradora trocava de lugar com a defensora. E vai por ai...

Foto da quadrilha.

A diversão noturna era pouquissima. Ficavámos debaixo dos blocos conversando ou brincando no parquinho do bloco K. As amizades com os outros meninos da quadra eram boas, e havia muitos meninos por lá, já com as meninas, lembro só de tres, a Rosangela, a Andreia, e a Evanir. A Evani era magrinha, e não chamava muito a atenção, então, eu e ela andavamos de mãos dadas pela quadra. Oficialmente ela foi a minha primeira namorada, a primeira mulher que beijei na boca, isso aos treze anos de idade. No mês de junho, uma animada familia carioca, organizou a primeira festa junina da 306. Dadá ensaiava a quadrilha, Jorge fazia os balões, eu ajudava na montagem das buchas que fariam o balão subir, o sargento Onoly pregava as bandeirinhas com a ajuda da sua mulher. No dia da festa acenderam a grande fogueira, que ficou queimando até a madrugada. Algumas barraquinhas que foram armadas ali, vendiam doces, refrigerantes e bombinhas. Chegou a hora da grande quadrilha, dançamos conforme os ensaios, e no final, os noivos se casaram sob as bençãos do meu pai, que foi o padre nesta ocasião. Ele estava muito engraçado, usando um óculos que só tinha uma lente, de vez em quando ele coçava o olho com o dedo passando pela armação sem a lente, arrancando risadas da platéia. Neste dia fiquei conhecendo a familia do Sr. Egon que acabara de chegar em Brasilia. Durante muito tempo fui a pescarias no lago acompanhado dele e de seus filhos. O lago paranoá começava a fazer parte dos meus momentos de lazer.

6 comentários:

  1. Porra tio,
    Que história legal. Não só porque faz parte da história da família, mas também porque faz parte da história da cidade. Deve ser muito interessante fazer esse retrospecto na sua cabeça. Eu que ainda não sou ciquentão (sacaneei) tenho bons momentos lembrando da minha infâncio, imagino procês que são mais "experientes" (morde depois assopra.. hahaha). Continue com os seus textos! São sempre interessantes pra caramba! Grande abraço canadense!

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  2. é me lembro bem do Kuinha de padre
    acho que foi minha primeira festa junina
    muito legal

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  3. Eu estranhei a vista das 300 pras 400? Mas depois tudo se explica... ainda não haviam construido as 100 e 200 rararararaaaa... papo de brasiliense...
    Agora sério, que delícia o cheiro de bloco novo, de apartamento novo... fiquei com inveja que vcs iam brincar embaixo do bloco e eu com certeza ficava em casa, pois devia estar com uns dois ou três anos, não e mesmo???
    Essa história tá bombandoooooo
    Beijosssss

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  4. Ô joana! não existia as quadras 100 nem as 200, por isso dava pra ver as 400. Não esqueça que era uma Brasília pré-histórica!

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  5. Moro hoje na 306..
    18 anos lá..
    desde q nasci..
    essa quadra já foi unida..
    hj não é mais, fico triste por isso.. nem se conhece os vizinhos do prédio. imagine os da quadra rs'
    já tem uns 6 anos q não tem mais festa junina ou qualquer outra...
    lembro que em 2002 assistimos a copa no parquinho q tem na frente do bloco D
    nessa época existia um pouco dessa união

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  6. Bons Tempos aqueles! Eu morava no Bloco B apt 108 e tenho saudades daquela época que não havia violência e as pessoas eram mais unidas.Gostei muito das histórias que você contou muito interessante já pensou em publicar um livro? Felicidades!

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