Alguns meses se passaram, quando um funcionário do exercito entregou a minha mãe, as chaves do apartamento 504 do bloco “D” que acabará de ser construido. Mudamos junto com a familia do sargento Onoli, amigo de papai, que foi nosso vizinho por tres anos consecutivo, assim como a familia de Sr. Bertulio e dona Bete. Foi um alívio, sair de um apartamentod de dois quartos para um de tres, porque um quarto a mais para uma família com as dimensões da nossa, fazia uma diferênça enorme. Lembro do dia da mudança, o cheiro de novo era presente em todos os lugares do bloco, nos corredores, nos elevadores silenciosos e dentro do apartamento. Este, além de maior, tinha um vista privilégiada para as 400, como são chamadas as quadras que ficam abaixo do eixo rodoviário, avenida que atravessa Brasília de norte a sul. As quadra 100 e 200, ainda não estavam construidas. No local só havia mato. Era ali que a brincadeira da “guerra das buchas” acontecia. Pegávamos as buchas que cresciam naquele matagal, e divididos em dois grupos, começavamos a guerrear atirando buchas e mamonas uns nos outros. Neste lugar também íamos catar cajú, que era nativo da região, e havia em grande quantidade no cerrado, apesar de ser bem menor e mais acido, era muito gostoso comer aquelas frutas fresquinhas ali mesmo. Um dia, eu resolví fazer ali, uma casa em cima de uma árvore, que nem nos filmes de tarzan. Eu achei um martelo jogado nas areias de uma obra, e os pregos e madeiras eu pegava nas sobras das construções, que eram muitas por ali. Com este material, escolhi o local, e fui pregando as tábuas numa árvore torta e esquisita que tinha naquele cerrado. Numa manhã de sábado, quando cheguei lá para brincar, ví que a minha construção arborivera, fora invadida por alguns meninos. Ameaçei quebrar a cabeça deles com o martelo, caso eles não desocupassem o imóvel. Eles sairam correndo, mas no domingo a casa não existia mais. Foi o primeiro caso de invasão de imóvel ocorrido na cidade. A outra diversão era o futebol no campo improvisado no asfalto. Eu jogava no gol, e por causa das constantes quedas, meus joelhos e cotovelos estavam sempre ralados. Nesta quadra também eram realizados os jogos de “batch”, uma especie de basebol brasileiro, onde dois jogadores, um de cada lado, atiram a pequena bola, com o objetivo de derrubar a base, um tripé de madeira, ou de lata que ficava dentro de um circulo, protegida pela dupla defensiva que com seus tacos tentavam evitar que a bola arremessada, acertasse o seu alvo. A cada rebatida começava a contagem de pontos, que só parava quando a dupla atiradora pegava a bola. Quando a bolinha atingia o alvo, a dupla atiradora trocava de lugar com a defensora. E vai por ai...
Foto da quadrilha.
A diversão noturna era pouquissima. Ficavámos debaixo dos blocos conversando ou brincando no parquinho do bloco K. As amizades com os outros meninos da quadra eram boas, e havia muitos meninos por lá, já com as meninas, lembro só de tres, a Rosangela, a Andreia, e a Evanir. A Evani era magrinha, e não chamava muito a atenção, então, eu e ela andavamos de mãos dadas pela quadra. Oficialmente ela foi a minha primeira namorada, a primeira mulher que beijei na boca, isso aos treze anos de idade. No mês de junho, uma animada familia carioca, organizou a primeira festa junina da 306. Dadá ensaiava a quadrilha, Jorge fazia os balões, eu ajudava na montagem das buchas que fariam o balão subir, o sargento Onoly pregava as bandeirinhas com a ajuda da sua mulher. No dia da festa acenderam a grande fogueira, que ficou queimando até a madrugada. Algumas barraquinhas que foram armadas ali, vendiam doces, refrigerantes e bombinhas. Chegou a hora da grande quadrilha, dançamos conforme os ensaios, e no final, os noivos se casaram sob as bençãos do meu pai, que foi o padre nesta ocasião. Ele estava muito engraçado, usando um óculos que só tinha uma lente, de vez em quando ele coçava o olho com o dedo passando pela armação sem a lente, arrancando risadas da platéia. Neste dia fiquei conhecendo a familia do Sr. Egon que acabara de chegar em Brasilia. Durante muito tempo fui a pescarias no lago acompanhado dele e de seus filhos. O lago paranoá começava a fazer parte dos meus momentos de lazer.
Porra tio,
ResponderExcluirQue história legal. Não só porque faz parte da história da família, mas também porque faz parte da história da cidade. Deve ser muito interessante fazer esse retrospecto na sua cabeça. Eu que ainda não sou ciquentão (sacaneei) tenho bons momentos lembrando da minha infâncio, imagino procês que são mais "experientes" (morde depois assopra.. hahaha). Continue com os seus textos! São sempre interessantes pra caramba! Grande abraço canadense!
é me lembro bem do Kuinha de padre
ResponderExcluiracho que foi minha primeira festa junina
muito legal
Eu estranhei a vista das 300 pras 400? Mas depois tudo se explica... ainda não haviam construido as 100 e 200 rararararaaaa... papo de brasiliense...
ResponderExcluirAgora sério, que delícia o cheiro de bloco novo, de apartamento novo... fiquei com inveja que vcs iam brincar embaixo do bloco e eu com certeza ficava em casa, pois devia estar com uns dois ou três anos, não e mesmo???
Essa história tá bombandoooooo
Beijosssss
Ô joana! não existia as quadras 100 nem as 200, por isso dava pra ver as 400. Não esqueça que era uma Brasília pré-histórica!
ResponderExcluirMoro hoje na 306..
ResponderExcluir18 anos lá..
desde q nasci..
essa quadra já foi unida..
hj não é mais, fico triste por isso.. nem se conhece os vizinhos do prédio. imagine os da quadra rs'
já tem uns 6 anos q não tem mais festa junina ou qualquer outra...
lembro que em 2002 assistimos a copa no parquinho q tem na frente do bloco D
nessa época existia um pouco dessa união
Bons Tempos aqueles! Eu morava no Bloco B apt 108 e tenho saudades daquela época que não havia violência e as pessoas eram mais unidas.Gostei muito das histórias que você contou muito interessante já pensou em publicar um livro? Felicidades!
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