segunda-feira, 10 de maio de 2010

Juiz de Fora - Mariano Procópio


Primeiros meses.

O carro de praça, como era chamado os táxis naquele tempo, saiu da rua Halfeld carregado de malas e passageiros. Atravessamos o largo de São Roque, cruzamos os trilhos do bonde, subimos a rua da Gloria,( linda vista da Igreja da Gloria), passamos em frente ao convento de Santa Catarina. No final da rua ficava a estação de trem bem de frente ao Museu Mariano Procópio. O táxi parou pouco depois, na rua Dr. Luiz Andrés.
Meio sem jeito, fomos entrando na casa do Sr. Jadir.
Hoje eu fico imaginando a surpresa deste senhor na hora que nos viu sair do táxi. O que ele deve ter pensado? Mais não importa. Ele nos recebeu de braços abertos em sua casa. Ficamos um tempo por lá, não sei quanto, mais foi um bom período. Neste ano, passamos o natal com esta família, e ganhamos até presentes. Um dia meu pai chegou com as chaves de uma casa que ele havia alugado nesta mesma rua. A casa era apertada. Uma escada dava acesso a um pequeno corredor que levava a porta da entrada. Era um sobrado, que o dono dividiu em pequenos apartamentos e alugou. O corredor dava vista para um terreno baldio, onde brincávamos e jogávamos bola. Do lado havia outro terreno que era utilizado por uma madereira, como depósito de toras. Um local bastante frequentado por mim e pelos meus irmãos. Tinha um punhado de areia de construção, e uma das brincadeiras era pular das toras nesta areia. Passava um tempo enorme sujando os calções e levando bronca de mamãe. Quando começou o período escolar, fui matriculado no Grupo Escolar Antonio Carlos, que ficava no inicio da nossa rua. Lembro bem do dia em que eu sai para o meu primeiro dia de aula, vestindo o uniforme do colégio. Calça de tergal cinza-chumbo, uma camisa branca com uma fita azul marinho na manga e no bolso. O tempo foi passando e o inverno chegou. O frio era algo desconhecíamos. O inverno era a única estação do ano que não nos fora até então apresentada. Minha mãe tinha um primo que morava em Juiz de Fora, e que nos ajudou um bocado arranjou uns cobertores que ele conseguiu com seus amigos de trabalho. Meu pai teve que fazer uma despesa extra com a compra de casacos, pijamas e camisas, tudo de lã pra gente aguentar as baixa temperaturas. Não era muito raro os termômetros, na madrugada, chegarem a 4ºC.
Eu ficava horas sentado no meio-fio no final da rua admirando a fumaça que subia das águas do rio Paraibuna, por causa do frio. Esta fumaça também saia da nossa boca, fazendo parecer que a gente estava fumando.
Nos dias de domingo, minha mãe logo cedo, nos arrumava com as melhores roupas, e nos levava para assistir a missa na igreja da Gloria. Lembro da ficávamos encolhidos com o frio da manhã, enquanto iámos subindo a ladeira da rua dos Andradas já no bairro de Santa Catarina onde ficava a igreja. Com o passar do tempo este programa foi se tornando cada vez mais rotineiro, meus pais já conheciam todos os padres da paróquia. Esta amizade foi útil em todos os aspectos, e durou todo o tempo da nossa permanência nesta cidade. Foi através da amizade de um destes padres, que conseguimos mudar para uma casa maior.
Uma velha camionete arrumada pelos padres, e um caminhão emprestado pelo pessoal do trabalho do meu pai, fizeram a nossa mudança. Neste dia deixamos para traz o bairro Mariano Procópio, e nos mudamos para a rua Padre Frederico no bairro de Santa Catarina.

2 comentários:

  1. A casa não era tão grande assim, mais para nós que estávamos morando num minúsculo apartamento, parecia mais uma mansão. Juiz de Fora marcou para sempre a nossa história. A lembrança que guardamos desta cidade, por maiores que tenham sido as dificuldades vividas naquela época, são só de alegria. Porque afinal, são de momentos alegres que construímos a nossa infância.

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  2. Acho que foi nessa época que mamãe começou a detestar o frio!! Imagina todo mundo sentindo frio e ela somente com a experiência do calor de Natal! continuo impressionada com o seu relato, com a sua capacidade de lembrar dos detalhes, das pessoas, dos nomes das ruas, escolas... Siplesmente demais... estou curtindo muito!!!
    Beijoss

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