quarta-feira, 19 de maio de 2010

SMU - 1970


Em 1970, no início do mês de fevereiro, meu pai recebeu as chaves da nossa futura moradia em Brasília. Por causa da nova função que exerceria no quartel, ele foi obrigado a desocupar o imóvel da SQN 306 onde estávamos morando, e ir para a casa que fomos ver la no Setor Militar Urbano. Descemos do ônibus que nos trouxe da rodoviária, em frente a última rua que havia naquela época neste setor. Hoje existem mais ou menos umas vinte ruas a mais. Caminhamos reto até uma praça, e chegamos a terceira casa, de número 115 seria o nosso futuro lar. As residencias do setor são todas iguais, sendo que as utilizada pelos oficiais eram melhores e ficavam na parte mais próxima ao eixo monumental, e os sub-oficiais e sargentos, ficavam na parte de cima.
Abrimos o portão e entramos pela lateral da casa, onde no final, ficava a garagem. Havia outro portão que dava acesso ao quintal, por onde entramos. A primeira vista para o quintal, era de um mato enorme que precisaria ser cortado antes da nossa mudança. Parece que quem desocupou a casa, não se preocupou nem um pouco com a limpeza e manutenção. Talvez até porque fosse responsabilidade do exercito fazer esta manutenção. Minha mãe viveu um momento de desilusão nesta hora. Ela foi entrando e reparando nos cômodos. Uma sala boa, se comparada ao apartamento da 306, os quartos eram maiores e os banheiros também. A cozinha era quase do mesmo tamanho mais tinha a vantagem de não ter área de serviço, pois esta ficava na varanda do quintal.
Meu pai tomou as providência, e quatro dias depois foi feita a mudança. Quando chegamos encontramos o quintal limpo, com um abacateiro enorme, uma raiz de maracujá que cobria de ramas o abacateiro, e ainda tinha um pé de pequi, que ficava defronte a janela do último quarto. Tudo era gramado. Era o nosso campo de futebol. Neste sábado foi só trabalheira. Arruma daqui, arruma dali, e a casa, no final do dia, já tinha a "nossa cara". Na semana seguinte, quem teve o maior trabalho foi mamãe, que teve que juntar a papelada para a transferência colegial da asa norte, e fazer as matrículas na escola do setor, e no ginásio do cruzeiro.Dá para imaginar o vai-e-vem dela nestes dias. Mais as aulas só começariam em março, então tínhamos muito tempo de folga pela frente para curtir.
Uma semana depois da mudança, recebemos a visita de meus tios que moravam em Unaí, e vieram conhecer a nova casa. Eles trouxeram uma quantidade enorme de espigas de milho, que ganharam de um fazendeiro da cidade de Cabeceiras, la de Minas Gerais. O banco traseiro do fusquinha vermelho parecia mais um celeiro, de tanto milho que tinha por lá. Adivinha qual foi a janta neste dia!
Meu tio gostava muito de pescar no lago Paranoá, e num desses dias de semana, encheu o fusquinha, e lá fomos nós, pescar. Chegamos ao Setor de Mansões do Lago Sul, e numa das ruas que davam acesso ao lago, encontramos o lugar ideal. Era uma destas mansões que tinha deck e cais, e como os portões estavam abertos e sem nenhum movimento interno, entramos na mansão do Fábio, era assim que estava escrito na placa da entrada. Estavamos todos já bem acomodado no deck, pescando, quando um senhor alto e magro, que era o caseiro, veio em nossa direção, e perguntou quem éramos, e quem tinha dado a permissão para estarmos ali. Meu tio nem pensou muito para responder que fora o próprio Fábio, seu amigo, que tinha autorizado. Meu tio Nilson nunca ouvira falar deste cidadão. O caseiro se afastou sem dizer mais nada, e nós continuamos puxando os lambaris. Como tinha dado certo, outro dia voltamos a pescar no mesmo lugar. Só que desta vez o Sr. Fábio estava em casa, e gentilmente, nos convidou a sair da sua propriedade, fato continuo, entramos no fusquinha e demos no pé. Com o fim desta amizade, tivemos que nos contentar com um barranco que havia no final da L2 norte proximo ao clube dos funcionário, que, para quem não sabe, já foi clube do BNCC.
Aos quatorze anos de idade, eu desejava muito ter uma bicicleta. Em especial a CALOI BARRA CIRCULAR REI PÉLE. Era a bicicleta da vez. Último modelo lançado pela calói no Brasil. Eu chegava a ter sonhos onde eu pedalava sem parar pelas ruas do bairro. Pareciam tão real estes sonhos, que as vezes quando despertava, tinha a impressão que em algum lugar da casa, haveria uma bicicleta encostada, esperando por mim. Comentei certa vez com a minha tia, sobre este sonho, e no dia 20 de abril, quando eu completei quinze anos de idade, ganhei a minha CALOI BARRA CIRCULAR REI PELE, novinha na côr verde, de presente da minha tia. Foram muitas pedaladas pelos setor, cruzeiro e as vezes até mais longe.
Os dias passavam sem muita pressa. Quase nada havia para se fazer nos dias úteis, ainda não havia o clube Pandiá, então a gente inventava. As brincadeiras eram futebol no campo improvisado da pracinha, ou nas quadras de algum quartel, e a noite tradicionalmente, ficávamos conversando besteira sentados em algum gramado dali. Nos finais de semana sempre tinha uma festinha de garagem, moda naquela época. Era divertido. Tirávamos as garotas para dançar, e como tinha muito mais homem que mulher, elas escolhiam quem elas queriam. Os feios literalmente, dançavam.As preferidas eram a prima do Dimas e a irmã do Ramilson, a gostosona da Iracema.
Junho chegou trazendo a copa do mundo. Por todos os lugares só se ouvia falar de futebol. Bandeiras eram hasteadas, calçadas eram pintadas, chuva de papel picado nosetor comercial, fogos. Eu assisti aos jogos na casa do Costa Ferreira. La estavam me acompanhando o Jorge Cascata, Charuto, que mora em Valênça perto da minha mãe, o Biloca, Fernando da 209 com suas irmãs e a Ligia e Teca filha do Costa, entre outros que não lembro o nome. O Brasil conquistou o título sem perder nenhuma partida. Na final contra a Itália foram 4 gols contra apena um. Éramos os tri-campeões do mundo. Fogos, e fogos, euforia em todo os cantos do país. Depois do jogo, Pelés, Jairzinhos, Tostões, Rivelinos, Carlos Albertos, e Felixs, jogaram no campinho da pracinha. Cada um com a sua fantasia.

4 comentários:

  1. Esta foto é do clube Pandiá. Meu pai foi o primeiro secretário geral deste clube. As primeiras carteiras de sócio, eram assinadas por ele. Um grande colaborador, que junto com o presidente Itamar, conseguiram inaugurar o clube. Na época deles, o clube fazia o maior sucesso, e tinha uma programação invejavel, jamais conseguida por outra diretoria.

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  2. Gulla, que incrível!! Eu abri o portão da casa, entrei pela garagem e até consegui ver a fisionomia de decepção de mamãe!! Consegui enxergar cada pé de quê você narrou... e olha que a única lembrança que tenho dessa casa é a mesa grande (ou parecia grande para mim) na área de serviço, onde a gente fazia as refeições... Que inveja da sua memória!!!
    Uma vez, em um curso de narrativa do conto, o professor me disse que o narrador tem de pegar na mão do leitor e conduzir pela história. Te digo que você vem fazendo isso comigo ao longo de suas postagens... Estou amando!!!!!!

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  3. tenho outras lembranças dessa casa: quando deu uma chuva forte e caiu umas folhas da bananeira; eu ficava imaginando que eram cabaninhas... das tantas vezes que corríamos em cima do muro das casas, lembro ainda de termos construido um clubinho no qintal e dos famosos pulos feitos da garagem, em cima de colchões... Miriam e sua saia paraqueda, rsrs. Só pra completar a informação do Pandiá, o numero da nossa matrícula era 84, até hoje tenho a carteirinha. Estou amando demais essa viagem ao tunel do tempo, parabéns Gula!!!

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  4. Do início do SMU lembro-me bem das brincadeiras de ruas. Carniça, pique, etc. Do campinho de areia (no qual ganhei minhas primeiras medalhas como ala direita do grande CARDEAL) eu lembro do Odélio e João Peão. Que figuras. A primeira formação do CARDEAL era Mel, Tande, Careca, Sidnei e o famoso Gila, depois vieram o Maninho, Jorginho, Carlinhos, Lucas, Marcito, Mozart, Márcio Macaco, etc.. Uma equipe de respeito..Fui Presidente do time. A grande liderança o Tande e o craque o Cacera (meu chará).

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