terça-feira, 25 de maio de 2010

Vale das Andorinhas - O comêço


Em meados da década de 80, um cheque de *Cr$ 1.000.000,00, selou um dos melhores investimentos feito pelo meu pai, se olharmos pelo âmbito recreativo e de reunião familiar, além da qualidade de vida que eles desfrutaram no período em que lá viveram.

(* convertido este valor , hoje seria algo em torno de R$ 5.000,00.)

Situada na rua Araguaia, lotes 7 e 9, do Vale das Andorinhas, a história da nossa chacara começou a ser construída aos poucos. Dia a dia. Mês a mês. Ano a ano.

Meu pai logo que se aposentou recebeu o convite de um amigo para cuidar de uma chácara de sua propriedade, que ficava próximo a Brasília, numa região conhecida como Vale da Andorinhas. Conhecendo o lugar, meu pai viu ali uma oportunidade de realizar um desejo antigo, que era morar no campo, tendo atividades tranquilas, e que lhe ajudaria a passar o tempo, sem se preocupar com horários e compromissos sérios. Meu pai aceitou de imediato, e após alguns dias, ele e minha mãe concluiríam a mudança.

A casa que ficava na rua Araguaia, em meio a encosta de um morro de pequeno relevo, fornecia uma atraente vista de toda a extrensão do vale. Durante os anos que meus pais permaneceram nela, tornou-se ponto de encontro famíliar e de amigos, que se reunião por la nos finais de semana e feriados.

O terreno comprado, onde seria construído a casa, ficava de frente a chácara que meus pais estavam morando. Lalá, o cunhado da minha irmã, e proprietario do lote comprado pelo Kuinha, também possuia um sitio na beira de um corrego, com um grande curral, onde os gados pastavam soltos, também havia por la muitas galinhas tudo isso e mais um sobrado em construção, onde os quartos eram separados por uma divisória de cortina. Era bem maior que o terreno adquirido pelo Kuinha. Na época nos achavamos que seria um péssimo négocio, porque o valor proposto por Lalá era considerado alto e não fazia sentido comprar algo tão supérfluo, uma vez que ninguém achava que o Kuinha iria mesmo construir alguma casa por ali. O terreno era só mato e muito formigueiro, um verdadeiro ninho de cobras. Mesmo desaconselhado, meu pai insistiu e fechou o negócio.

Pouco dias se passaram, e Kuinha resolveu que iria fazer um quarto e um banheiro no lote. Em poucos dias, um caminhão carregado de tijolos, areia, brita e ferros, encostou pela primeira vez na porta do lote, para descarregar as tábuas, tijolos e telha. Como seria uma constução provisória, não haveria de se ter pressa em começar a construção. Afinal, era preciso desenhar o projeto, e conseguir um bom pedreiro para dar inicio as obras. Muitos livros de construção foram comprados. Uma coleção inteira de “Como Fazer”, “Construindo muros, “concretos e alicerce”, etc... A suite foi desenhada por meu pai, que, apesar da simplicidade da obra, demonstrou ser um bom desenhista de plantas baixas. O terreno foi demarcado com estacas e barbantes indicando o local onde seriam levantadas as paredes. Meu pai mostrava a cada filho aquela planta com o maior orgulho. Nos finais de semana, com certa frequencia, juntavamos a familia, aproveitando o sol, na beira da pequena piscina, sempre tomando umas cervejas geladas e regadas a um bom papo familiar. No almoço, a deliciosa comida de dona Jenié, era um convite à mesa sempre farta e com deliciosas saladas, acompanhada sempre de um saboroso suco natural. Redes eram espalhadas na varanda e, após o almoço, cada um escolhia a sua para se deitar e fazer a cesta. Enquanto isso, pelas mãos do mestre João, as paredes subiam sem pressa, e a casa aos poucos ia ganhando forma.

Ato continuo, todas as sextas-feira, à tardinha, já era compromisso dar uma passada no mercado para comprar umas latinhas e o pão para depois pegar a BR 040. Um a um, as famílias chegavam buzinando e fazendo festa. Meu pai abria o portão com uma alegria imensa estampada nos seus olhos azuis, e os carros começavam a ocupar o gramado que virava um grande estacionamento. Abriam-se as latas, e dava-se inicio a alegria. Mesa cheia na janta, mas somente dois ferlizardos teriam a honra de ocupá-la junto com Kuinha e Jenié, na hora do jogo de buraco.

4 comentários:

  1. Que viagem!!! ah! dessa história eu conheço!! papai falava que quando se aposentasse, iria morar em cima do morro e criar galinhas... dito e feito!! Muito legal!!! Isso vai ter de virar um livro!!! Você vai ter muito compradores, porque a nossa chácara tinha muiiiitos fãs!!!
    Beijossssssss

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  2. Realmente dessa terra cascalhosa, de cerrado espinhento, árvores tortas e cupins famintos, nosso Pai fez brotar mel. Coloriu de verde as pedras com um gramado impar, plantou mangueiras, abacateiros e pinheiros que faziam musicas a noite. Levantou uma varanda bela e compartilhou com os joãos de barro. Viveu seu sonho e vendeu para nós um pouco dele. Fez do nada um muito, e esse muito está guardado a sete chaves, não só no meu mas em todos os corações de quem teve oportunidade de compartilhar aqueles momentos.

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  3. e do nada fez-se um muito... tive o privilégio de ficar mais tempo com papai e mamãe na chácara, compartilhar da missa via parabólica, as inumeras visitas dos caseiros e amigos que moravam nas redondezas... e também acompanhar mamãe tantas vezes no percurso do "caminho do céu", rsrs...
    boas, belas, maravilhosas lembranças, que nunca serão apagadas de nossos corações.

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  4. Com entusiasmo e seguindo seus caminhos também segui o mesmo caminho. Minha chacará em Taquaruçú já completou 2 décadas. E aos finais de semana, logo que o sol desponta, alguns passaros pretos começam a cantarolar, eu começo a rezar um Pai nosso, seguido de Ave Maria, Para mim esse passáro é papai conversando comigo. Isso me acalma e me dá força para continuar com nossa caminhada. Lá do Vale da andorinha ele me deu uma muda de Acerola que está plantada ao lado da churrasqueira. Seus frutos são maravilhosos.

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