sábado, 12 de março de 2011

Um velho amigo de 99 anos

Hoje partiu para os céus um grande amigo! Com 99 anos o Sr. Inácio (avô da minha esposa) partiu! Homem cheio de histórias e aventuras. Fazendeiro, vaqueiro, garimpeiro e tropeiro! Deixará muitas saudades! Sou um felizardo por ter tido a honra de ouvir as suas histórias.

Há 16 anos atrás, quando conheci o vô, ele galopava com elegância pelas suas terras num lindo cavalo marrom escuro. A cela bem amarrada ao dorso do animal brilhava tanto que parecia refletir as luzes do nascer do dia. Ele se aproximou de mim e seu primeiro gesto quando me cumprimentou foi mostrar a arma que carregava orgulhoso no coldre amarrado a sua cintura. Era uma pistola prata. Uma das muitas que possuía na sua coleção. Ele tinha vigor e falava com firmeza. Falou algo sobre mim e sua sobrinha e depois deu um tiro para o alto que até hoje o som faz eco nos meus tímpanos.

Mais não pensem que o vô fez por mal. Esse era o jeito dele dar as boas vindas. Com o passar dos tempos fui conhecendo melhor as maneiras dele se expressar.

Quando veio morar em para Brasília, ele e sua esposa Da. Enésia ficaram na casa da filha na cidade de Valparaiso e sempre que podia, ia ter uma prosa com este distinto cavalheiro que me presenteava com as suas história de fazenda, mato e caças a bichos ferozes que apareciam vez em quando na sua propriedade. Um homem capaz de passar noites inteiras em cima de uma árvore a espera de uma boa caça. Suas terras são imensas e cheias de encanto. Uma lagoa imensa, onde além de muitos peixes habitava também alguns jacarés. Suas duas casas bem simples e seguindo a engenharia local, era construída com árvores nativas e barro arrancado do próprio solo, além da cobertura de piaçava, que ajudavam a refrescar os cômodos de chão batido.

Seu Inácio foi tropeiro e passava meses fora de casa. Atravessava estados inteiros da região norte para trazer no lombo das burras, o sal para os gados que criava em suas terras. Nestas idas e vindas foi criando o seu extenso livro de experiência, cujas folhas só podem ser lidas através da sua prosa. Nos tempos em que era jovem se aventurou no garimpo. Me contou com riqueza nos detalhes como era a vida dos homens rudes e capazes de tudo para proteger o seu espaço num local onde a lei eram eles, e os juízes também.

Nos últimos anos porém, seu Inácio andava muito abatido por causa de sua doença. Nesta época era eu quem contava histórias de cavalos e bois, campos e matas para vê-lo sorrindo. Depois a doença chegou para valer e o sr. Inácio já não enxergava e nem escutava direito, e se calou para o mundo externo. Acredito que nos seus sonhos ele continuou a galopar pelo cerrado de suas terras e seu pensamento garimpava o ouro que sua imaginação deixava.

Adeus, seu Inácio! Monte em seu cavalo castanho e cavalgue veloz para os braços da sua esposa que o espera na imensa casa de DEUS!

2 comentários:

  1. Os grandes homens, com suas grandes estórias estão nos deixando aos poucos, e eu me pergunto o que tem sobrado de nossa gerqação?? pois o que tenho visto são pessoas ambiociosas, vazias, digamos "tecnológicas" sem graças, sem sorrisos, .. gerações que dão muito valor ao material, mas, são tão vazias de vida.
    Sr. Inácio (tive o prazer de conhecer) mas infelizmente ele ja tinha adoecido, e não escutei suas estórias... com certeza deve estar cavalgando em uma bela viajem para emfim descansaar..

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  2. Dedico a tia Jôse, filha que cuidou do vô, com muito carinho, nos últimos dias de sua vida!

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