quinta-feira, 22 de abril de 2010

Viagem pelo atlântico

O navio cargueiro ITAQUATIA, foi um dos 24 navios da classe encomendados em 1953 aos estaleiros nacionais Ishikawajima do Brasil (Ishibras), Rio de Janeiro, Companhia de Comercio e Navegação - Estaleiro Mauá, Niterói, RJ e Verolme Estaleiros Reunidos do Brasil S.A., Angra dos Reis, RJ pela Sunamam - Superintendência Nacional de Marinha Mercante para diversos armadores nacionais. Especificamente foi a sétima unidade de um total de oito navios construídos pelo estaleiro Ishikawajima do Brasil (Ishibras), Rio de Janeiro, RJ, para o armador Companhia de Navegação Lloyd Brasileiro, Rio de Janeiro, RJ. O Lloyd receberia/tinha sob encomenda outros 6 navios ordenados aos estaleiros Mauá e Verolme.

Naquela tarde, o velho Itaquatiá deixou para traz o porto de Natal. Da proa eu via meu avô agitando sem parar o lenço branco que segurava na mão. Não era só ele. Tios e primos também foram ver a nossa partida. Lembro do nó que deu na minha garganta ao ver o choro da minha mãe abraçada com meu pai no convés, e dos meu avós que ficaram no cais. Eu mal acabara de completar 8 anos, e achava chato ter que deixar a minha cidade, meus avós, primos tios, enfim eu me senti triste nesse dia. O navio se afastava vagarosamente, deixando as águas calmas do rio Pontengí, para invadir a imensidão do oceano atlântico. Que sensação de medo e insegurança que eu senti nem sei porque. Acho que eu me coloquei no lugar dos meus pais saindo do aconchego da família, para uma aventura rumo ao desconhecido.
Veio o por do sol, e como já não se via mais nada, nem a cidade de Natal, minha mãe nos levou para os camarotes que nos foram reservados. Eram dois. Até hoje eu tento imaginar como foi possível acomodar tanta gente em tão pouco espaço. Para se ter idéia, minha irmã caçula, que na época era um bebê, dormia numa rede armada entre dois beliches. Em cada cama desses beliches, onde uma pessoa sozinha já estava mal acomodada, dormiam dois. Imagine o balanço do navio, e você sendo jogado de um lado para o outro, com mais um do seu lado. Outro detalhe que lembro bem, eram as refeições que alguém trazia para o nosso quarto. Isso mesmo, a gente não comia no restaurante do navio. Só me lembro de ter feito uma refeição apenas no restaurante. Nossa primeira parada foi no porto de Cabedêlo na paraíba.
Continuarei narrando esta travessia brevemente.


4 comentários:

  1. Esta travessia é real. Meu pai na época era militar, e foi transferido de Natal para Juiz de Fora. A viagem da família com oito membros, por opção foi feita de navio.

    Continuarei narrando esta aventura em breve.

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  2. Que magnífico!! eu não tinha,em toda minha vida,um só relato desta gigantesca viagem rumo ao desconhecido que nossos pais ousaram fazer!! fiquei muito emocionada e agredecida por você nos presentear com essa riqueza de depoimento!! continue,por favor!!

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  3. Grande Gula, no LP "Tropicália" do Caetano, que aliás pra mim é sua primeira obra prima, tem uma canção; "No dia em que eu vim-me embora", que é a cara do teu relato: tocante pelo desabafo tardio que ficou travado na garganta do moleque de oito anos, subitamente, afastado de seu mundo familiar; avós, tios e primos. Continua o relato dia a dia, tenta lembrar de todos os detalhes...Isso vai pegar um formato legal de diário de bordo. Valeu!

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  4. Esta foi a primeira separação. Quantas outras passamos em nossas vidas. Lindo relato.Vou mostrar a mamãe, com certeza ela ainda vai chorar.

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